À Rasca

Há mais de dez anos a diretora de um museu relativamente importante em Lisboa dizia, numa conversa privada, que tinha uma série de voluntários no museu, a trabalhar sem gastos para o museu. E que trabalhavam imenso, com grande qualidade, todos recém-licenciados. E a mulher estava ufana e orgulhosa.

Demorou dez anos, mas finalmente estes desgraçados, qualificados, mal pagos, com gente de chefia a achar que é normal ter trabalhadores que não são mas são, começam a sair fora do ninho de self-pity em que se enrolaram.

Vai ser complicado; até porque contrariamente ao que se diz, há mesmo um jogo de soma zero: alguns dos privilégios que foram dados a uma geração mais velha vão ter que ser revertidos. Mas é inevitável.

Mas ainda não ficou claro para toda a gente esta revolução: assadas duas semanas sobre a manifestação mais relevante dos últimos anos em Portugal, não há eco nenhum. Políticos, comunicação social não perceberam verdadeiramente o que se passou.