Wednesday, February 07, 2007

A Hipocrisia Mata

Protocolo para o ministro da justiça resolver o problema do aborto em três passos:
1) Pedir ao parlamento para mudar a lei
2) Se não for aprovada, dar ordens à polícia para cumprir a lei (!) e prender todas as mulheres que abortassem
3) Por cada mulher presa ir à televisão dizer: "Tenho que cumprir a lei, e por causa disso hoje há mais uma mulher a dormir na prisão"

Este tema deixa-me cansado, "farto", como diz o Miguel P na Bicicleta. Cada um seguramente já tem a sua opinião sobre o assunto e não há margem para debate.

Mas rapidamente passo de farto a enojado, quando vejo a hipocrisia de Ribeiro e Castro (que agora concorda em alterar a lei para que não haja mulheres presas, mas que antes nunca pensou nisso, e tenho a certeza depois nunca o faria); ou ainda a hipocrisia de Marcelo (jurista, que não quer a lei cumprida!!!!!!, visceralmente desmontado no melhor clip de sempre dos gato fedorento).

A vitória do "Sim" não me vai deixar eufórico, não vou andar a apitar pelas ruas como se a regionalização ganhasse (p.ex.). Mas vai deixar-me mais aliviado; é sinal que vivemos num Portugal mais moderno, mais tolerante e mais respeitador das decisões difíceis que por vezes a vida nos obriga a tomar.

16 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Prender todas as mulheres que abortassem seria uma medida muito drástica, mas que resolveria de certeza o problema. No entanto nem sempre «os fins justificam os meios». As «criminosas» iriam ser expostas perante a sociedade por uma decisão que de certeza não tomaram de ânimo leve. Não será melhor simplesmente despenalizar o aborto e permitir às mulheres que o façam nas devidas condições? É pena que os nossos representantes políticos não «vistam calças» para resolverem de uma vez por todas este problema. Por isso é que é necessário este segundo referendo. Podes estar farto de tanta discussão, mas ainda há muita gente que não tem opinião formada sobre o assunto. Quanto à vitória do SIM, espero que ela aconteça, mas não tenho tanta certeza como tu que isso vá suceder.

2:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

é isso mesmo "... decisões difíceis que por vezes a vida nos obriga a tomar"
como se alguma mulher abortasse de ânimo leve, como se não fosse uma decisão muito complicada, seja qual for ou quais forem as razões
parece-me que neste caso não se trata de indecisão, tratam-se mais de convicções mais ou menos fortes
acho que há muitos “nãos” pouco reflectidos, dizem “não” como se fosse um acto reflexo
o problema é que a “campanha” é muito extremada e irracional em muitos casos e deixa toda a gente cansada
eu acho que o "sim" vai ganhar, mas não sei como está a previsão de abstenção, espero que ganhe

6:41 PM  
Blogger Zorze said...

Concordo plenamente.
Espero que depois disto votem mais de 50% dos portugueses eleitores. Aí sim a coisa vai aquecer. Para um lado ou para outro, qualquer coisa tem que mudar.
A ver se o Sócrates tem tomates para manter a lei se o não ganhar.
E se ganhar o sim, que a nova lei saia bem feita.
Afinal, por motivos diferentes, ninguém quer o aborto.

10:07 PM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

A questão da despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez até às 10 semanas, a pedido da mulher em estabelecimento legalmente constituído para o efeito (é mais ou menos isto, não é preciso copiara a pergunta) tem sido sucessivamente mal abordada para defensores do Não e também do Sim.

Aos defensores do Não por hipocrisia pura e simples. Primeiro porque o problema não lhes diz de todo respeito. Ou porque nunca o praticariam (ou permitiriam que alguém muito próximo o fizesse), ou porque simplesmente tem capacidade financeira de ir a Badajoz “comprar uns caramelos”ou mesmo “comprar umas roupinhas” ou “visitar um museu” em Madrid ou em Londres (mais chique ainda), e assim este problema não é deles!
Reparem que a actual lei não impede nenhuma portuguesa de praticar um aborto. Impede sim é que o faça a Portugal! E para o fazer no estrangeiro só precisa de ter dinheiro. Portanto esta alteração que agora se propõe destina-se precisamente às pessoas de determinados estratos sociais. (Reparem que uma mulher que pratique o Aborto em Espanha pode perfeitamente dizer em publico “Eu abortei” e o estado português não poderá fazer coisa alguma.

Mas os defensores do SIM, i.e., da alteração da Lei, ás vezes não percebem que esta questão tem de ser abordada pela sociedade portuguesa e ser resolvida. Agora ou daqui a uns anos. Lutando sempre por aqueles que tem menos possibilidades de lhes ver defendido os seus direitos. Hoje e sempre. Sem hesitações. Sem cansaços. Sem ironias. Com coragem e determinação. Mas também com respeito pela democracia e pela vontade da maioria e por todo o processo decisório anterior. Por isso tinha agora de haver referendo e caso a percentagem do Não seja maior que o Sim, deverá ser respeitado, por aqueles que decidiram referendar a questão.
Mas nada disto nos deve demover de lutar por aquilo que nos move. Há 8 anos a derrota do Sim foi justificado com alguns excessos dos seus defensores. Espero agora que os mesmos que praticaram os excessos, não fiquem cansados ou fartos.

Eu por mim, consegui convencer o movimento Sim: Responsabilidade e Cidadania a iniciar o dia de encerramento de campanha na Freguesia de São de Brito em Lisboa, com uma acção de divulgação no Mercado de Alvalade Norte e Av. da Igreja, a partir das 9h30m. E tenho já o compromisso de participação de militantes do PS e do PCP. Espero só que não chova.

Desafio-vos a nestes dois dias que faltam de campanha, a fazerem algo para lutarem por aquilo que acreditam.
Deste modo o vosso cansaço estará mais perto de acabar no Domingo.

8:45 AM  
Blogger Cerejinha said...

Sinceramente não sei como será o desfecho deste dilema.
Confesso que se o Sim ganhar será, para mim, uma surpresa pois num país de falsos moralistas em que se diz Não pela frente e por trás faz-se o que se negou anteriormente, nunca se sabe bem com o que contar.
Por mim, já tomei a minha decisão. Vou votar em consciência, pois como diz o Tiago, a vida obriga-nos muitas vezes a tomar decisões difíceis e tal como no ditado popular "Nunca digas: desta água não beberei".

10:23 AM  
Blogger Muffi said...

Como espicaçar comentadores tão seguros da sua posição?

Posso começar por dizer que, para quem não sabe, a nossa lei é mais permissiva que a Espanhola e só não há clínicas de aborto em Portugal, porque nunca houve quem quisesse abri-las. E, já agora, que vai abrir uma sucursal de uma afamada clínica espanhola no nosso país provavelmente ainda no decorrer deste ano, onde ao abrigo da nossa lei, se vai utilizar o argumento da saúde psicológica da mulher para realizar as IVGs que não têm qualquer outra justificação.

Depois falam em decisões difíceis que a vida nos obriga a tomar.
Pois é, a hipótese de um filho não planeado é assustadora. É difícil pensar que a nossa vida vai mudar radicalmente, que nada vai ser como dantes, que provavelmente vamos adiar ou apagar da ideia os planos que tinhamos para o futuro, e pensar também em todas as dificuldades pessoais, familiares, económicas, sociais, etc. que terão de ser enfrentadas. Mas a vida não é feita de escolhas fáceis, e como tal, não me parece que se deva fomentar a opção pelo caminho mais fácil.

Também posso acrescentar que tirando a abstinência que obviamente não tem muitos adeptos, não há métodos anticoncepcionais 100% seguros, e como tal, quando os usamos estamos a assumir uma margem de erro que, por mas pequena que seja, existe. E quem anda à chuva...

Um bocadinho de informação jurídica: os crimes que envolvam uma pena de prisão de até 3 anos não são julgados nem a dita pena de prisão é aplicada no nosso país, como medida para não entupir os nossos já obstruídos tribunais. Ou seja, uma mulher que aborte e contra quem seja apresentada queixa e comprovado o aborto (o que é dificil de provar) não vai ser julgada nem vai pra prisão.

O argumento económico: Eu devo ser obrigada a pagar impostos para o estado fincanciar clínicas em que a lista de espera para ´fazer um aborto vai ser certamente inferior a digamos 7 semanas, mas o mesmo estado não me garante a mim que não morro de cancro na lista de espera para uma qualquer cirurgia?

Posto tudo isto, será escusado dizer que para mim nenhum dos argumentos apresentados pelos defensores do sim no referendo justifica a morte de um ser Humano, tenha ele 5 semanas, 10 semanas, ou 10 semanas e 1 dia.

11:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

Muffi,

Achas que a saúde psicológica de uma mulher não é razão para suficiente para abortar? Achas que uma mãe depresssiva ou com outro tipo de problemas psicológicos será uma boa mãe?
Não é a visão de uma vida completamente diferente que motiva o aborto, mas sim a possível ausência de uma vida em condições para mãe e filho.
Além disso, ninguém tem o direito de tecer considerações acerca da validade, ou não, de um argumento para abortar. Só a mãe o poderá fazer.

2:34 PM  
Blogger Muffi said...

Helloooo?!...
Quando a saúde psicológica da mulher está em causa, e de acordo com a lei actual, já se pode abortar.
E o pai?
Será que só tem o dever de sustentar o filho depois de ele nascer?
Não tem ele o direito de proteger a vida e a saúde do seu filho?

9:46 AM  
Anonymous Anonymous said...

Quantas mulheres é que conheces que abortaram em hospitais públicos devido a algum problema psicológico? As mulheres que eu conheço com este tipo de problemas fê-lo em Espanha ou então numa espelunca qualquer aqui em Portugal.
Em relação ao pai, acho muito bem que ele queira demover a mãe de fazer um aborto. Infelizmente grande parte destes ditos pais demite-se dessa função assim que a «namorada» engravida e a criança não é desejada. Seria óptimo que todas as mulheres que engravidam pudessem ter os filhos. A gravidez e o facto de ter um filho devem ser momentos de felicidade e não de angústia.

11:20 AM  
Blogger tiago m said...

Querida djamilia e querida muffy,

eu, que adoro discutir…, tenho sempre muita dificuldade em discutir este assunto – parece-me que andamos às voltas, os argumentos são válidos de parte a parte e como se está a falar de uma situação desagradável, não consigo ter motivação para este debate

de modo que me cinjo a uma coisa; a lei diz que as mulheres devem ser presas. A lei não está a ser cumprida. Se não queremos alterar a lei temos de querer cumpri-la; logo temos de prender todas as mulheres que façam aborto.

É aí que eu digo que há imensa hipocrisia do movimento de gente do não que ouvi na televisão (Ribeiro e Castro, Marcelo Rebelo de Sousa, Lobo Xavier, Zita Seabra). Que agora ainda por cima querem enganar as pessoas dizendo que votem não, mas nós faremos com que as mulheres não sejam presas. Então votem sim!

12:09 PM  
Blogger Muffi said...

Cara djamilia
E quantas mulheres conheces que tenham tentado fazê-lo?
Abortam clandestinamente tal como continuarão a fazê-lo se o sim ganhar e a lei for alterada, porque não querem que ninguém saiba, porque elas próprias consideram que o que estão a fazer é condenável.
Quanto ao resto, se são precisas duas pessoas para fazer um filho, porque é que só a opinião de uma há-de contar para decidir ou não matá-lo?

Tiago
A lei diz que pode haver pena de prisão até 3 anos, tal como depois diz que essas penas não são aplicadas nem esses casos julgados. Por isso a lei actual, de forma algo ardilosa, diz que de facto abortar é crime, mas que não é aplicada qualquer pena de prisão à mulher que aborta. O que quanto a mim é um bocado hipócrita, mas ao menos não permite que se ande por aí a abortar porque sim.
Devem ser dadas condições às mulheres que se encaixam no argumento da saúde psicológica? Claro que sim. Mas esse argumento só deve aplicar-se a esses casos e não ser usado indiscriminadamente como os espanhóis fazem.
Abortar só porque sim, desculpem lá, mas não!

12:29 PM  
Blogger tiago m said...

Querida Muffy,

Essa lei que é crime mas depois não é, parece-me mesmo um travesti de justiça. As mulheres nessa situação são empurradas para condições miseráveis e para inquéritos policiais que imagino nada agradáveis, mesmo que no final não dêm em nada.

Eu compreendo os argumentos de quem diz que se mata uma criança (discordo mas compreendo). Já compreendo com mais dificuldade que não se seja consequente.

Discordo bastante contigo quando dizes "que se ande por aí a abortar porque sim". Eu tenho por principo moral não julgar as intenções dos outros; não sei se alguém fará um aborto porque sim; a questão volta ao ponto principal, único que para mim esta em discussão no domingo:

As mulheres que fazem um aborto devem ser presas por isso? Eu acho que não. Quem votar "Não" no referendo, acha que a lei deve dizer que sim.

12:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

Cara MUFFI
os teus impostos servem para arrancar unhas encravadas, fazer operações a gordos que não fazem dieta, tratar os bêbados que se espetam de carro, comprar submarinos e sustentar milhares de militares, pagar pensões milionárias, etc etc etc.
a lei portuguesa tem uma regulamentação diferente da espanhola. por cá, nenhuma clínica privada pode fazer um aborto, legalmente, por risco psicológico da mulher.
nao pretendo convencer-te de nada. até porque tal não é possível. nesta questão, ser do SIM e do NÃO é como ser do sporting e do benfica, por mais argumentos que se esgrimam, ninguém vai mudar de opinião.
votem
sim
lb

1:23 PM  
Blogger Muffi said...

Caro Tiago
Dizes: "As mulheres que fazem um aborto devem ser presas por isso? Eu acho que não. Quem votar "Não" no referendo, acha que a lei deve dizer que sim."
Não sejamos radicais. O facto de não concordar que se liberalize o aborto até às 10 semanas - sim, porque não precisar de motivo para fazer um aborto até às 10 semanas é liberalizá-lo - não implica que eu concorde plenamente com a legislação em vigor.
Voto não porque a alternativa proposta é, a meu ver, bem pior.
Querem despenalizar as mulheres e fazer abortos em estabelecimentos devidamente equipados e acreditados, então façam propostas de lei responsáveis. Não nos peçam que lhes passemos um cheque em branco para que quem quiser possa abortar sem dar um motivo até um prazo de 10 semanas que é meramente administrativo.

Acho que cada um tem a sua opinião e os seus valores, mas faz-me uma certa confusão esta opinião que prevalece de que o aborto é uma coisa feia que cada um não apoia nem faria, mas bora lá votar sim para cada um fazer o que quiser, num total desrespeito pelo mais fraco só porque está dependente da mãe. Pois ele está tão dependente dela às 10 semanas como estava às 2 e estará às 30. E continuará depentente dela mesmo depois de nascer. Qualquer dia vão querer que quem se fartar de um filho menor e dependente pode ir ao hospital "pô-lo a dormir" porque afinal não o queria...
É que parecem estar a esquecer-se que tanto a mãe como o pai concerteza sabiam muito bem o que estavam a fazer quando fizeram um filho, porque mesmo que tenha sido por acidente eles sabiam que esse "risco" existia...
Sejamos responsáveis!

3:05 PM  
Blogger tiago m said...

Cara Muffy,

este debate é circular, e a abordagem do meu querido lb é bem interessante ("por mais argumentos que se esgrimam, ninguém vai mudar de opinião. votem sim")

Eu não sou contra o aborto. E seria capaz de aceitar que se fizesse. E não acho que às dez semanas haja uma vida. E acho que em muitas situações fica tudo muito melhor com um aborto que com uma criança. E acho que a mulher tem todo o direito de escolher, mesmo sozinha, e mesmo sem dizer ao seu parceiro.

Mas não é isso que estamos a discutir. Querem esta lei, querem mulheres presas. Votam no não, devem exigir que a lei se cumpra. E se estão no poder (e há gente nos movimentos do não que estiveram e vão voltar a estar no poder), espero que as prendam.

As pessoas que eu referi atrás tiveram anos para fazer propostas de lei responsáveis e para resolver o problema que agora identificam. Nunca o fizeram. Agora dizem que se o não ganhar, depois da força de um referendo indicar que a população não quer mudar a lei, eles interpretariam o referendo e modificariam a lei. É completamente hipócrita. Eles nunca modificariam a lei e referir isso é intelectualmente muito desonesto.

5:12 PM  
Anonymous Anonymous said...

fui ver qm era a muffi: "Eu, sou eu. Contestatária, refilona, compulsiva, impulsiva, apaixonada, doida, frágil, mázinha... Tudo em 1".
pensei q era o tiago.
ta tudo esplicado
mas essencialmente nao se esquecam de ir votar no referendo, pois a participacao massiva num referendo e tao ou + import. q o seu resultado.

eu ate prefiro q o nao venca q assim tavez volte outra vez a londres coma minah namorada e a mae dela as compras...

1:45 AM  

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