Thursday, June 05, 2008

O Susto da Irlanda à Europa

O tratado de Lisboa aprovado com toda a pompa foi colocado por baixo do tapete em todos os países da Europa. Excepto na Irlanda, onde por lei não havia nada a fazer senão levá-lo a referendo. A Irlanda é o país ideal para aprovar qualquer coisa pro-europeia: disparou economicamente graças à Europa; tem perto (no espaço, e na história) um país enorme, cuja importância se dilui no contexto europeu; tem muitos emigrantes e convive bem com isso.

E no entanto, o Não e o Sim estão empatados. É sempre mais fácil votar Não que Sim: qualquer coisa serve para o Não, mudar é difícil, muitos fantasmas são sempre agitáveis. Nesta campanha, os argumentos do Não são mesmo de toda a ordem: do cinismo mais básico (se rejeitarmos eles vão-nos oferecer mais) ao patriotismo mais simplório (eles morreram por uma Irlanda independente, não a deites fora); à mentira pura e simples (contra a guerra do Iraque, contra o tratado de Lisboa). A defesa do sim é amorfa: baseada no progresso económico mais quotidiano; as grandes ideias da Europa, do progresso esquecidas.

E o que é ser Europeu? O Euro está aí, o conhecimento da Europa e de amigos/as europeus está aí. Quando eramos miúdos isso era impensável, quando Espanha era longe, a fronteira fechava, e a passagem para o outro lado se fazia por um rio cheio de alforrecas. E entretanto adormecemos para esta transformação, fomo-nos habituando.

Há agora um certo malaise, a ideia que a Europa cinzenta comanda os nossos passos e não permite a identidade nacional. E é verdade que este poder centralizado comanda as nossas vidas, tornando até a política nacional muito mais irrelevante e sem história. Os cidadãos nesta Europa são abafados por um consenso técnico/politico/intelectual/mediático que nem uma porra de referendo permite.

E no entanto eu não tenho alternativa melhor; até gostaria que o referendo desse Não, só para agitar as coisas; mas a verdade é que em termos práticos isso provavelmente seria prejudicial para a Europa e para o progresso do mundo. Por isso feitas as contas, se calhar, prefiro que o Sim ganhe. Mas com tão pouco entusiasmo, tão pouco entusiasmo…

5 Comments:

Blogger Zorze said...

Este novo tratado é uma tanga no que respeita à resolução do "impasse institucional" constante em que a UE vive.
Basicamente vamos dar mais poderes ao Parlamento, o que é mau. Porque quem manda no Parlamento são os lobbies, e os eurodeputados são políticos, que como tal, nada percebem de dossiers técnicos sobre os quais têm que dar opinião, e dão parecerem que só juntam mais confusão às discussões de interesses dos 27. Veja-se o caso das decisões sobre o orçamento.
Vamos ganhar em duas áreas. A representação externa da UE, que irá ter uma única figura, que irá ligar os interesses do Conselho e da Comissão. E o reforço da "legitimidade democrática", porque, entre outras coisas, grupos cidadãos vão poder fazer petições junto da UE.
Acho que basicamente são estas as três coisas novas do Tratado.

Na minha posição de eurocéptico convicto, penso que aqueles (os únicos - os irlandeses) que podem escolher são facilmente convencíveis com a tal "legitimidade democrática" e os novos direitos de cidadania. O pior é que votar "sim" leva, na minha opinião a mantermos/piorarmos a bagunça institucional que é a Europa.
E esse problema nunca foi/será resolvido. Estamos constantemente a falar nele, e que necessitamos de uma "nova Europa". E isso só quer dizer que algo funciona mal. E por isso se fazem novos tratados. E este esquema funciona em sistema pescadinha-de-rabo-na-boca, simplesmente para manter toda a máquina a funcionar.

12:26 AM  
Anonymous Anonymous said...

Bem, eu gosto da Europa e a minha tendência natural é mesmo ser "pró"... mesmo vivendo num país europeu que se refere aos outros países europeus como "os europeus", qual bicho estranho e até mesmo perigoso!

No entanto, do que vi e li do dito tratado, muito pouco parece representar a Europa em que eu acredito e com que sonho. Enquanto, o dinheiro for o único valor que parece valer a pena considerar (muitas vezes à custa do individuo) não haverá Europa que nos valha. Não, não e não!

1:03 PM  
Anonymous Anonymous said...

Tiago
Esqueceste-te da identidade européia, que é uma coisa que tanto tu como eu sabemos que existe.
Mas a destruição da Europa que conhecemos hoje e como muito bem referiste sempre sonhamos, vai acabar com os receios dos políticos sobre o compromisso que é necessário ter de todos os europeus. Sem referendos, sem opiniões, sem votos não há construção européia.

1:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

O teu esforço para não falar do f.c.porto é hercúleo, notório e por isso verdadeiramente meritório.

Contudo, como gostas tanto de futebol, e do teu f.c. porto, porque não falar do jorge nuno, do paulo assunção, do helder postiga, do reinaldo teles, da suspensão da uefa, da perda dos 6 pontos, da não apresentação do recurso a nível nacional, da suspensão do mafioso por 2 anos, etc...

E depois de falar dos Estados Unidos, do Nepal e da Irlanda, (para não falar do seu f.c.porto) deixo-te aqui um repto de amigo: para quando os posts sobre Andorra, o Vaticano, a Suazilandia,o Belize,o Vanuatu, ou o Lesoto.

É que como a polémica está para durar, os recursos para analisar, e segundo sei, estão em vias de investigação outros jogos e outras épocas, não existêm países sufucientes no Mundo para tu escreveres os teus postesinhos ...

Vai pensando no caso...

Abraço apertado do primo

2:54 AM  
Anonymous Anonymous said...

6ª feira, 13 = NÃO

7:11 PM  

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