Friday, October 03, 2008

A Liberdade

Os deputados do Parlamento português têm esta característica muito especial: estão sempre de acordo com o seu partido e de acordo com os outros deputados do seu partido. Das várias dezenas (centenas?) de votações numa sessão legislativa ninguém vota diferentemente dos seus colegas. Mais ainda, uma vez que representam diferentes zonas do país, em nenhuma destas leis, os deputados do Algarve, (p.ex.) consideram que os interesses dos seus constituintes são diferentes dos constituintes do Minho!

Esta semana, os senhores deputados, desta vez os do PS, vão exercer esta opinião unanimista; aparentemente alguns deles até não estão de acordo, mas muito dignamente e sem dobrar a espinha vão votar contra a sua própria opinião, e a favor do que o partido quer.

É com gente valente e desta têmpera decidida que o país necessita para andar para a frente.

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

MM--> Sabes Tiago são várias as razões mas deixo aqui duas.... 1ra- como as leis em Portugal nunca são aplicadas de uma maneira convincente mas sim com umas "nuances" não interessa saber de que região é o deputado pois essas nuances se encarregam de fazer a diferença.a 2da razão é que s votarem de maneira diferente aos colegas correm o risco de não ter casinha atribuida de borla....:)

5:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

José Saramago nos seu caderno, quase diário, que se encontra on-line na página da sua Fundação.

Assim, escreveu o Nobel da literatura, no passado dia 1 de Outubro:

«Onde está a esquerda?»

«Vai para três ou quatro anos, numa entrevista a um jornal sul-americano, creio que argentino, saiu-me na sucessão das perguntas e respostas uma declaração que depois imaginei iria causar agitação, debate, escândalo (a este ponto chegava a minha ingenuidade), começando pelas hostes locais da esquerda e logo, quem sabe, como uma onda que em círculos se expandisse, nos meios internacionais, fossem eles políticos, sindicais ou culturais que da dita esquerda são tributários. Em toda a sua crueza, não recuando perante a própria obscenidade, a frase, pontualmente reproduzida pelo jornal, foi a seguinte: “A esquerda não tem nem uma puta ideia do mundo em que vive”. À minha intenção, deliberadamente provocadora, a esquerda, assim interpelada, respondeu com o mais gélido dos silêncios. Nenhum partido comunista, por exemplo, a principiar por aquele de que sou membro, saiu à estacada para rebater ou simplesmente argumentar sobre a propriedade ou a falta de propriedade das palavras que proferi. Por maioria de razão, também nenhum dos partidos socialistas que se encontram no governo dos seus respectivos países, penso, sobretudo, nos de Portugal e Espanha, considerou necessário exigir uma aclaração ao atrevido escritor que tinha ousado lançar uma pedra ao putrefacto charco da indiferença. Nada de nada, silêncio total, como se nos túmulos ideológicos onde se refugiaram nada mais houvesse que pó e aranhas, quando muito um osso arcaico que já nem para relíquia servia. Durante alguns dias senti-me excluído da sociedade humana como se fosse um pestífero, vítima de uma espécie de cirrose mental que já não dissesse coisa com coisa. Cheguei até a pensar que a frase compassiva que andaria circulando entre os que assim calavam seria mais ou menos esta: “Coitado, que se poderia esperar com aquela idade?” Estava claro que não me achavam opinante à altura.»

«O tempo foi passando, passando, a situação do mundo complicando-se cada vez mais, e a esquerda, impávida, continuava a desempenhar os papéis que, no poder ou na oposição, lhes haviam sido distribuídos. Eu, que entretanto tinha feito outra descoberta, a de que Marx nunca havia tido tanta razão como hoje, imaginei, quando há um ano rebentou a burla cancerosa das hipotecas nos Estados Unidos, que a esquerda, onde quer que estivesse, se ainda era viva, iria abrir enfim a boca para dizer o que pensava do caso. Já tenho a explicação: a esquerda não pensa, não age, não arrisca um passo. Passou-se o que se passou depois, até hoje, e a esquerda, cobardemente, continua a não pensar, a não agir, a não arriscar um passo. Por isso não se estranhe a insolente pergunta do título: “Onde está a esquerda?” Não dou alvíssaras, já paguei demasiado caras as minhas ilusões.»

11:24 PM  
Anonymous Anonymous said...

João tem cuidado ao citares o José Saramago, não vá o homem também viver numa casa cedida pela CML, como o teu ex Baptista Bastos...

9:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

Fique sabendo que o Armando Baptista Bastos, não é nenhum ex, para mim, conforme, precipitadamente, afirma.

O enorme Baptista Bastos é, na minha opinião pessoal, um paradigma do que é ser um jornalista isento. Não ouso, em cataloga-lo, como um dos maiores jornalistas portugueses da segunda metade do séc. XX. Possuidor de uma integridade, tristemente, fora de moda; de uma ética e deontologia profissional muito vincada; de uma vasta cultura; e, de um olhar certeiro, independente e incómodo da sociedade, porque diz o que ninguém quer ouvir, será sempre uma das minhas maiores referências na língua portuguesa.


Quanto ao problema por si levantado, deixo-lhe a resposta do visado:


“ Na semana que passou fui copiosamente nomeado. Não por ter editado um novo livro. Não por ter escrito um rude artigo contra alguém, ou um elogio a quem o mereceu. Apenas porque, há 11 anos, sou inquilino da Câmara Municipal de Lisboa. As "notícias" vindas a lume traem o étimo da palavra: nenhuma novidade comportam. Por três ou quatro vezes, em crónicas amenas, confessei-me arrendatário municipal, como outras dezenas, senão centenas, de pessoas. E há os ateliês dos Coruchéus; os de Belém. Cedidos, como em toda a Europa, a artistas, que não vivem propriamente na penúria. Sem esquecer o Bairro dos Jornalistas, em Alfragide, construído com grandes apoios municipais. Durante umas outras eleições municipais, um sisudo e monótono semanário quis saber do assunto. Embora preserve, com feroz esmero, a minha vida privada, esclareci a senhora que perguntava. Repetiu-se, agora, a dose. Habituei-me à manipulação (porque de manipulação se trata), tocado da leve rabugice que a reincidência me provoca e a idade justifica. O que se publicou está eivado de inexactidões, de omissões e de insídia. Este jornalismo húmido e pegajoso mais parece um livro de encargos sujos do que a função de origem. Um só facto: o meu senhorio é, realmente, o Município. De resto, nada de ilegal, nada de imoral. E muito menos a retribuição de "pequenos favores". Há homens que arrastam consigo a polémica ou a ignomínia. Pertenço ao primeiro grupo. E de ignomínias possuo uma lista cada vez mais acrescida. Como o registo das coisas acompanha sempre o sentido das intenções - sei muito bem de onde e de quem partem estas periódicas atoardas. Ser livre é muito difícil.

O apartamento foi-me atribuído após inspecção dos técnicos à minha casa, em Alfama, onde vivi 32 anos. Chovia no interior, paredes rachadas, perigos vários. Procederam, outros técnicos, ao varejo cuidadoso dos meus réditos de então. Escassos: eu estava desempregado. Abandonara o jornalismo, ou o jornalismo abandonara-me em 1990. O contrato assinalava que a renda aumentaria consoante os ritmos da inflação. Devo dizer que faço estas confidências com pudor e escrúpulo. Porém, torna-se imperioso que não deixe aos acasos das contingências as evidências da razão. Conheço os perigos que a minha actividade comporta. Tenho sido, certamente, injusto, áspero e, até, insensato. Mas escrever ou ter comportamentos moralmente reprováveis - conscientemente, creio que nunca. No extremo cume da extrema percepção, é-me difícil exprimir, por outro meio que não este, a indignação causada pela abjecta orientação ad hominem da atoarda. Faço uma representação do mundo que, naturalmente, me é muito própria. E não abdico de convicções. Há quem altere o prisma, para adoptar novos modos de vida. Como não pertenço a esse agrupamento, recomendo: Vão bater a outra porta! É tudo.”

3:40 PM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Caro Tiago

Desta vez tens razão. É a maior vergonha da democracia dos últimos anos. Como se sentiram alguns dos militantes homosexuais do OS, com mais esta descriminação?

Caro João

Tens de concordar que é também uma vergonha, que alguém por ter determinada profissão entenda que tem mais direito que o comum dos mortais. O mínimo que Batista Bastos devia ter feito era proporcionar imediatamente a sua casa para muitos milhares de lisboetas que vivem em condições deploráveis e que ao contrário de batista Bastos não têm condições financeiras para outro tipo de habitação. VERGONHOSO! Pior só mesmo a direcção parlamentar do OS.

11:59 AM  
Anonymous Anonymous said...

Grupo parlamentar do PS vai apresentar declaração de voto a favor de casamento homossexual
09.10.2008 - 15h47 PÚBLICO
O grupo parlamentar do PS vai apresentar amanhã uma declaração de voto, após a votação dos projectos de lei do Bloco de Esquerda e de os Verdes sobre o casamento entre homossexuais. Apesar de votarem contra os diplomas, os deputados explicam que estão a favor da união entre pessoas do mesmo sexo.

Segundo o documento, a que o PÚBLICO teve acesso, os deputados expõem, em três pontos que o grupo defende intransigentemente a igualdade dos direitos expressos na constituição e que não põe em causa o conteúdo programático dos diplomas que irão a votos amanhã, posicionando-se a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Mas o grupo parlamentar socialista justifica o seu voto contra os dois projectos com o facto destes virem na altura errada, sem que tenha havido uma ampla discussão na sociedade portuguesa sobre o assunto. E recorrem mais uma vez ao facto dos casamentos homossexuais não constarem do programa do Governo para esta legislatura, como tem sido avançado como argumento principal.

Segundo o Rádio Clube avançava esta manhã, o documento foi hoje apresentado, aos deputados socialistas, pelo líder parlamentar, Alberto Martins, e será amanhã apresentado na votação dos diplomas do BE e de Os Verdes.

Ao que o PÚBLICO apurou, também nesta declaração de voto não existirá consenso entre os 121 deputados que integram o grupo parlamentar socialista.

6:34 PM  

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