Monday, June 08, 2009

Três Bitaites Sobre as Eleições de Ontem

Fartei-me de rir sobre estes peritos todos que agora conseguem explicar o que vai acontecer; sendo que até ontem nunca tinham previsto a vitória do PSD.

Foi refrescante ver os vencedores sem cenário, espontaneidade, sem palco preparado, gente suada na câmara, sem palanque; e ver os vencidos com a preparação, cenário para a tv, tudo enquadrado.

Foi bom ir votar; encontrar pessoas nas urnas que não via há MUITOS anos; e ter este sentido de comunidade com aquela gente toda contente, descontraída, que esperava para poder votar; escolher em conjunto como queremos que nos governem.

6 Comments:

Anonymous João Chagas Aleixo said...

As últimas eleições europeias trouxeram-nos alguns factos que nos impõem uma séria reflexão.

Grande derrota pessoal do pseudo-engenheiro José e do «professor doutor de Coimbra» parafraseando o pré-senil Almeida Santos;

Significativo crescimento da esquerda caviar, e por vezes demagógica, que passou de 167 000 votos, em 2004, para 382 000, agora; chegando mesmo a ultrapassar o PCP em cerca de 2 500votos;

Maior número de sempre de votos em branco, isto é, cerca de 164 830 pessoas sairam de casa e deram-se ao trabalho de ir votar em branco;

Por último nota positiva para o elegante e refrescante cruzar de pernas da Clara de Sousa, na Sic; e, nota amplamente negativa para a pirosada do penteado da Judite de Sousa, que mais parecia uma campónia que tinha vindo, em excursão, a Lisboa, visitar o Mosteiro dos Jerónimos.

Nota negativa para os gastos que a RTP incorreu ao alugar o Mosteiro dos Jerónimos com o dinheiro dos contribuintes, mais um gasto desnecessário.


Tiago, nem com o teu voto o Partido «Socialista» foi lá...

5:03 AM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Amigo Tiago

Gostei do teu post e de como manifesta a tua alegria em votar. Infelizmente tu e os teus amigos representam uma minoria de pessoas, que se reduz cada vez menos - será que estás a perder amigos.

Infelizmente não pode acompanhar os comentários nas televisões, mas notou-se nos discursos, mas pelo que ouvi na rádio, somente o Paulo Rangel estava mais ou menos preparado para um discurso de vitória, ou então estamos a perder um excelente político para o parlamento europeu, e claro o Paulo Portas, que tem sempre discurso preparado para tudo.
Decepções a meu ver, o Louça, que quanto mais cresce, mais se afasta de uma posição de governo o que levará o BE a decrescer bastante nas legislativas, e claro o Sócrates – perdeu como o PS perdeu tem de levar as outras conseqüências, não ao nível do governo, mas evidentemente a nível interno. E que se passou no PS? Assobiou-se para o ar... Não há responsáveis pelo resultado desastroso? A culpa morre solteira? Não pode ser!

Pergunta final: Será que estes resultados mostram que as pessoas estão cansadas da democracia e dos partidos de governo?

10:17 AM  
Anonymous João M. said...

Análise de Armando Baptista Bastos às últimas eleições europeias, no Diário de Notícias de hoje:

«Os mesmos à mesa»

«Acentua-se a decadência do PS, esse projecto sem projecto, esse 'socialismo' desacreditado e desacreditante.

Os resultados estão muito aquém das nossas expectativas. São decepcionantes", disse Sócrates, rosto compacto e voz pesada. Já suspeitava de que o primeiro-ministro tem vivido num universo plano, no qual é inexistente a espessura das coisas e a evidência dos factos. A prova forneceu-a ele próprio, com a taciturna confissão. Que esperava da sua rude teimosia, da sua obtusa empáfia, ele, mais propenso às volúpias do mando do que às obediências da ideologia?

Sócrates perdeu para quem? A admitir, como júbilo, a selvagem alegria de Paulo Rangel, e como declaração de impostos a fúnebre catadura de Vital, Sócrates perdeu para toda a gente. Mas o PSD vence quem? O PS e o Governo? Se a verdade enriquece mais do que a reticência, o Bloco Central sai incólume deste imbróglio. O Bloco Central é uma instância de poder, desprovida de convicções, e, sobretudo, destinada a distribuir empregos. O PS não é "socialista" (creio que nunca o foi) e o PSD foge espavorido da "social-democracia".

É verdade que o Bloco subiu, o PCP aumentou o número de votantes, e o CDS sacudiu a letargia com a qual desejavam amortalhá-lo. Mas as coisas estão rigorosamente na mesma: elementares e antigas. A mesa está posta para os mesmos. E não é preciso restaurar a frase de Lampedusa; basta reler, por exemplo, o "Portugal Contemporâneo", do Oliveira Martins, para se entender quem manda e sempre aqui mandou.

Paulo Rangel saiu-se menos-mal de uma contenda de mediocridades. No PSD é olhado de viés. O baronato acha-o levemente patusco e um pouco ridículo. Pelejou sozinho, ou quase, contra desdéns e omissões. Ao contrário do que afirma o cada vez mais enfatuado e fatigante Pacheco Pereira, o candidato do PSD não seguiu a "estratégia" da dr.ª Manuela, pela simples razão de que essa "estratégia" não existe. A vitória nestas eleições cabe, por inteiro, a Paulo Rangel, o qual atribuiu a si próprio a defesa de um castelo cercado, cujos paladinos haviam debandado. Que fazer com esta vitória? Os senhores do PSD começaram, já, a assenhorear-se de uma glória que lhes não pertence; Rangel vai para Bruxelas mas, antes, será crestado em fogo brando; e, com maior ou menor fortuna, passada a increpação nervosa do momento, a dr.ª Manuela continuará alvo de conspirações e objecto de pequenas deslealdades. É o PSD, tal o caracterizou Sá Carneiro.

Em todo o caso, acentua-se a decadência do PS, esse projecto sem projecto, esse "socialismo" desacreditado e desacreditante. Mas poderá José Sócrates inverter a tendência para o abismo? Fará pequenos remendos como um remorso sobressaltado. Apenas isso. Nada de substancial que sacuda a leve rotina das coisas.»

11:42 PM  
Anonymous João M. said...

Ferreira Fernandes na sua crónica diária no Diário de Notícias de hoje:

«O Bloco partido e o Partido bloco»

«A ultrapassagem do PCP pelo Bloco de Esquerda baralha as contas nacionais. A contradição que há nos nomes dos dois partidos explica a importância do novo dado. O PCP - "o Partido", como se diz dentro de casa - é um bloco. O BE - "o Bloco", como dizem os seus - está, de essência, partido. O Bloco é partido e o Partido é um bloco. Um é inamovível: confirme-se com o Avante (4/6/2009) que se insurge por a RTP lembrar Tiananmen. Dele, do PCP, pode falar-se de uma rocha - e isso está longe de ser um elogio político. Já o BE tem dias. Há nele revolucionários (vindos do PSR e da UDP) que deram o salto para o "Estado burguês" sem nunca o verbalizarem - o que torna frágil e provisória qualquer mudança. Desses, a ver vai-se. Mas há também assumidos sociais-democratas de esquerda e, para eles, sopram os ares do tempo: o PS vai ver neles o que o PSD vê no CDS. Muleta que merece oferendas. Não vai ser namoro público, mas seguir 24 horas por dia Miguel Portas, era capaz de dar boas manchetes políticas. O Partido, que é um bloco, contenta-se com os seus nichos de mercado (fornecerá Mários Nogueiras para professores, juízes, polícias…) E o Bloco, que está partido, une-se quando cheirar a Governo?»

11:47 PM  
Anonymous o topazio said...

Concordo inteirament com Batista Bastos acerca do Bloco Central.
"O Bloco Central é uma instância de poder, desprovida de convicções, e, sobretudo, destinada a distribuir empregos" diz. Eu acrescentaria: e também casas!

7:24 AM  
Anonymous João M. said...

Baptista Bastos, sempre ele, qual Dom Quixote da Graça, mais uma vez a meter o dedo na ferida. Dá-lhes B.B., eu estou contigo. Hoje, no Jornal de Negócios:


«A esquerda não foi derrotada»

«Quem tem ideais de Esquerda sentir-se-á frustrado e magoado com a derrota do PS? Não o creio. Ideais de Esquerda é acreditar na solidariedade, na equanimidade, na justiça social, em uma melhor distribuição da riqueza, numa sociedade onde a política se sobreponha aos grandes interesses económicos - enfim; que puna a corrupção, o nepotismo, o tráfico de influências.

Ora, a verdade é que "este" PS tripudiou sobre esses grandes princípios de Esquerda. Claro que o PSD não colmata as deficiências, os desvios ideológicos e as derivas do PS.

A vitória de domingo pode ser uma vitória de Pirro, mas não acredito. As pessoas, em geral, estão completamente ausentes, ou longínquas, da governação "socialista", e esse desencanto veemente pode levá-las a tomar o PSD como antídoto ou como objecto de vingança. Já aconteceu. Noutras e em circunstâncias semelhantes.

Têm dito, também, que o resultado das europeias não irá afectar as legislativas nem as autárquicas. Tenho uma opinião contrária. Está criada uma dinâmica de vitória e, historicamente, estas diligências produzem um movimento multiplicador. O PS foi demasiado longe nas cedências, nas capitulações e na delapidação da sua própria identidade ideológica. Hoje, o PS não é carne, nem peixe, nem arenque vermelho. De "socialismo" nem o mais tímido cheiro. E o estribilho com que Sócrates tentou dissimular a viragem à direita ("Esquerda Moderna") constituiu uma fraude desprovida de qualquer sentido ético, ideológico, de séria tentativa de mudança ou de aprofundamento do projecto socialista.

José Sócrates tem promovido, com desenvolta soberba, as mais elementares propostas do neoliberalismo. Mário Soares chamou a atenção, em artigos publicados no "Diário de Notícias", palestras e debates, da deriva deste Governo e dos desvios do partido, onde a discussão é inexistente. Chamou tarde de mais. Já Sócrates, em alegre e leviana cavalgada, era elogiado por associações patronais, por confederações de empresários e por voláteis comentadores de Direita. Fez o que tem feito e, segundo disse na noite da derrota, não mudará de rumo.

Enquanto a sociedade civil protestava com ímpeto e arrojo; enquanto as ruas do País se enchiam dos gritos indignados de milhares e milhares de pessoas; enquanto o desemprego subia em desfilada; enquanto oceanos de dinheiro desaguavam em bancos, como actos salvíficos das redes financeiras; enquanto muitos prevaricadores passeavam uma impunidade atrevida, e os nossos velhos morriam nos jardins, de espanto, de assombro, de solidão e de desventura - enquanto isso, José Sócrates fez ouvidos moucos causando uma indignação maior pelo desprezo que demonstrava.

Claro que uma pessoa com ideais de Esquerda não ficará satisfeita com a derrota do PS no domingo. Porém, convém esclarecer algumas ambiguidades. Afinal, vencedores e vencidos são amigos uns dos outros: os grandes barões de um e de outro partido encontram-se nas mesmas empresas, nos mesmos gabinetes, nas mesmas administrações: pertencem a essa casta que divide o poder entre si, como opção de vida e não como espírito de missão. Aliás, espírito de missão parece coisa anacrónica e soa a arcaísmo. A vida portuguesa, em uma ou em outra circunstância, não vai sofrer alterações substanciais. Eles não querem. Sempre se bateram pela alternância e sempre contrariaram a alternativa. Uma Imprensa poderosamente apostada em criar e em manter a imbecilidade e em preservar o pretenso "equilíbrio" das "forças tradicionais" tem-se abstido de provocar o debate e de admitir outros partidos (o PCP e o Bloco de Esquerda, por exemplo) como pares de uma possível alteração no "arco do poder".»

1:13 PM  

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