Sunday, March 29, 2009

Do Ponto A ao Ponto B Alguma Coisa se Perde

A gravação do inglês que involve Sócrates num caso de corrupção é estranhíssima e para mim pouco convincente. Mas há seguramente lá informação suficiente para se verificar se ele mente ou diz verdade; e acabar com isto rapidamente.

Mas mais interessante e motivo deste post é a justificação do inglês: "o dinheiro foi dado a alguém para o financiamento do partido (PS)". O homem está a defender-se e este é um argumento plausível e aceitável para gastar dinheiro de uma empresa; não seria roubar, não seria desfalque.

Ora, no percurso ilegal de A (empresas) para B (partidos) há muitos apeadeiros onde o dinheiro pode parar: desde ao primeiro funcionário da empresa, ao primo, amigo, conhecido, motorista, até ao primeiro dirigente do partido que recebe o dinheiro.

É um processo tortuoso, diário; e que até Cavaco, ou Sampaio (gente com outro estatuto moral que Sócrates, convenhamos...) conhece e tacitamente aceita. Também não é um processo português: Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, EUA, todos têm este problema.

De vez em quanto alguém é apanhado na curva…

7 Comments:

Anonymous João Chagas Aleixo said...

Crónica semanal do Armando Baptista Bastos ao Jornal de Negócios do passado dia 27 de Março de 2009:

«A CANETA DAS SETE LÉGUAS»

«Tenho escabichado, com arfante inquietação, jornais, revistas e livros procurando indicações que me permitissem viver menos sobressaltado. Até comecei a frequentar o "Finantial Times", leitura que não alumio no meu panteão de leitor ávido. Em vão. Nenhuma das leituras aquietou os meus alvoroços. Nem um artigo, módico e exíguo; nem uma frase avara; nem um grosso volume ensaístico me forneceu uma resposta, por pequenina que fosse. Ninguém me consegue explicar quando é que a "crise" exalará o último suspiro.

Chego à conclusão dilacerante de que toda a gente nela fala e ninguém sabe o que diz, ou o que diz não quer dizer rigorosamente nada. Há tempos, "Le Nouvel Observateur" formulava a amarga pergunta: "Afinal, para onde foi parar o dinheiro?" Silêncio. Severos comentadores, sábios economistas, génios do mundo financeiro, talentosos jornalistas de economia escreveram, escreveram, falaram, falaram acerca do instante problema. Não percebi nada.

É uma crise do capitalismo, estúpido! Porém, parece que nenhum preopinante deseja enunciar a frase, com ou sem a palavra final. As luminosas mentes do G-20 fervilham de soluções, nos intervalos dos longos almoços e dos lautos jantares que deglutem nos melhores restaurantes europeus. Dali não sai nada. "Afinal, onde foi parar o dinheiro?" O G-20 não é G-20 para isso. O G-20 é G-20 para proceder ao remendo de um sistema económico seriamente abalado pelas suas contradições, e a que alguns vigaristas de alto coturno contribuíram com fraudes mastodônticas.

O G-20 não está particularmente interessado em procurar a solução de uma crise que, sobretudo, afecta os mais desfavorecidos, os mesmos aos quais se sobrecarrega de outras dificuldades e exigências. O G-20 não estuda alternativas. O G-20 quer salvar o "mercado", com escassas alterações ao modo como o "mercado" existe. Ninguém de boa-fé entende que se não façam estudos comparativos e que as indeterminações daquele vasto grupo sejam resultado de uma alargada cretinice.

Os interesses económico-financeiros, por detrás das discussões e dos debates, sobrelevam as urgências colectivas, e as incoerências e ambiguidades daqueles eméritos génios não se coadunam com a procura da génese da crise. E a verdade é que a Esquerda, acaso mais vocacionada para actuar sobre as variáveis institucionais, queda-se num embaraçoso vazio ou apega-se a fórmulas ancilosadas e que já pouco compreendem.

No nosso país, o desemprego aumenta exponencialmente aos discursos do poder. Há uma espécie de "tenham paciência" comum aos partidos maiores, e umas vagas ramificações socializantes nos partidos mais pequenos. Entende-se: estes últimos só conseguem tempo de televisão se não deixarem de bramir. Quanto ao PS e ao PSD, ó homem!, até tenho vergonha pela vergonha que eles não têm.

Timidamente, há uns tempos, o dr. Cavaco lá discreteou acerca dos vencimentos dos "gestores." A Imprensa e as televisões fizeram-se tímido eco da ignomínia, porque de ignomínia se trata quando se conhecem os abismos que separam os ordenados dos trabalhadores daqueles que auferem a famosa casta. Não é demagogia, não senhores: não entro nessa. Nem a circunstância de muitos deles pertenceram ao "privado" não me assusta nem intimida. É um caso de moral pública, que terá de compreender diferentes abordagens legais e regulamentares e diversos graus de implicação do Estado na economia.

Não é apenas nos Estados Unidos onde estas indignidades acontecem. Distribuir, entre eles, os "gestores" e os "administradores", prebendas, privilégios, mordomias, aumentos e prémios monetários substanciais não é atributo da América. Em Portugal não há vontade nem coragem política para se investigar e tornar público as volumosas reformas, os enriquecimentos abusivos, os vencimentos e as duplas e triplas funções de "administrador" exercidas por pessoas cívica e eticamente abomináveis.

As facilidades imorais concedidas pelo sistema estão associadas à perda de valores, de padrões, ao espezinhar das mais rudimentares formas de viver em sociedade. "O capitalismo é predador", disse-o, há tempo, Mário Soares. "O capitalismo neoliberal é a destruição do humanismo." Aquilo a que os turiferários deste sistema chamam de "economias desenvolvidas" só o são, ou só o foram, enquanto a vaca não mugiu e esperneou. O resultado está à vista. É falaciosa, porque historicamente provada, entre neoliberalismo e crescimento. Não são resultados contraditórios: são evidências, cruelmente acentuadas nos últimos anos. O neoliberalismo não só dizimou as economias, como ameaça, seriamente, a própria natureza da democracia. O Acto Patriótico, do sr. Bush, foi uma clara tentativa de reduzir ao mínimo a liberdade de informação e de opinião. Um resquício do "macartismo, aliás nunca extirpado do corpo da grande nação americana.

É notório, embora não dilucidado pelos media (diz-se "média" e não "mídia", como a ignorância organizada o insiste), que não se sabe como sair da crise sem desarticular o sistema capitalista. Porém, a verdade, também, é que - e depois? Não é fácil, temos de admitir. Mas não é impossível. Qualquer outro sistema será, inevitavelmente, "inventado", nascido de todas as ruínas e de todos os escombros. O "socialismo real" resultou em hecatombe. Os pressupostos largamente partilhados por muitos economistas, sobre o capitalismo, estão seriamente abalados.
E agora? »


Mais um tratado de bem escrever, de bem pensar, de bem reflectir e de bem problematizar.

Aos 75 anos o B.B. continua igual a si próprio. Não se vende. Não se compra. Não se verga. Não para de lutar. Sempre! Sempre! Sempre! Até que a sociedade melhore, aumentando os seus índices de igualdade, liberdade, fraternidade, integridade, ética, deontologia, respeito pelos outros, amor ao próximo, etc...

Baptista Bastos Sempre!!!

1:37 AM  
Anonymous Anonymous said...

Lá estás tu e o Baptista Bastos! Ele até pode escrever coisas interessantes, mas não acredito que a maioria das pessoas que vem aqui a este blog leia estes textos...

9:20 AM  
Blogger PK said...

lemos porque o joão chagas aleixo posted it!!

11:19 AM  
Blogger PK said...

como no monopólio - uns voltam à casa da partida e fazem tudo outra vez igual e outros recebem o cartão para irem para a prisão. mas como no monopólio é tudo a fingir.... excepto o dinheiro!! esse sim é uma NOTA PRETA!

11:24 AM  
Anonymous Anonymous said...

Menos elixir da longa vida e mais soro da verdade.
Gastar dinheiro por gastar, que seja com mulheres (portuguesas excluídas, obviamente) e não a corromper políticos, de qualquer lugar.

12:24 PM  
Blogger Luísa said...

Isto é como aquele anúncio que apareceu há uns anos na televisão com o lápis que, depois de beber e de "se sentir o melhor" durante algum tempo,parte o bico. Será que com o Freeport vai haver baixas?

5:37 PM  
Anonymous Anonymous said...

Tiago le esta:

"In performing Services for you and for your employer, Ernst & Young may process personal data relating to you, including sensitive personal data such as race or ethnic origin, political opinions, religious beliefs, trade union memberships, physical or mental health, sexual life, criminal proceedings, Social Security numbers or other government-issued identification numbers, and financial account information, in connection with completing appropriate tax filings. In doing so, Ernst & Young will comply with applicable privacy laws and its privacy policies."

Tudo isto para tratar de impostos...

11:00 PM  

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