Monday, September 18, 2006

Osama Bin Laden em Faro

Vou à Bertrand para ver se têm o Atlantic Monthly – sem grande esperança, diga-se – e vejo na montra, numa das principais ruas da cidade, dez Osamas Bin Ladens e o título "Mensagens ao Mundo de Osama Bin Laden" a olhar para mim. Na loja protestei com o vendedor, que sem nunca deixar de rir e gozar comigo, me disse que Osama é o nosso salvador.

Não percebo esta neutralidade/ambiguidade que há em Portugal e na Europa relativamente a Bin Laden, Al-qaeda e à guerra aos valores de fraternidade, igualdade e solidaridade que são os nossos desde há muito tempo. Andamos todos a dormir, parece.

8 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tiago, compreendo a tua revolta, mágoa e amargura por um lado, mas o teu lirismo quixotesco expanta-me porque o associo a uma certa infantilidade.
Os valores que tu defendes, que são idênticos aos meus, nascidos da Revolução Francesa de 1789, são valores que facilmente passam para segundo ou terceiro plano quando o que está em causa é a maximização das vendas, neste caso concreto de uma livraria. A Bertrand, como outra qualquer livraria, está a obdecer a lógicas mercantilistas, capitalísticas, a ferramentas de marketing avançado, de modo a tornar-se cada vez mais competitiva num sector de mercado que mudou muito desde que a fnac entrou em Portugal.
Contudo, poderias argumentar que no caso concreto da Bertrand, que é a livraria e editora em actividade mais antiga em todo o mundo, fundada em 1732, que foi durante os séculos XVIII, XIX E XX a maior e mais importante editora do país, que publicou os livros mais importantes e representativos do Romantismo Português, tinha um dever moral e uma hierarquia de valores diferente das restantes livrarias, mas como disse Pessoa, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".
Portanto, penso que a tua revolta incontida poderá ter razão de ser, mas quando a assunção desses valores representar que se deixe de vender uns milhares de livros, de se perder uns milhares de euros, numa economia e num sector de mercado com tantos players, a tua posição romântica e um pouco quixotesca só poderá ser confundida com uma certa infantilidade.

5:22 PM  
Blogger miguel p said...

o livreiro é o que menos culpa tem no meio disso tudo, coitado...

o bin laden vende como tudo o que é diferente, extremado e contra-corrente, obsceno ou pornográfico vende... que se editem livros com o pensamento do bin laden é para mim tão relevante quanto as edições do mein kampf, do livro vermelho do mao-tsetung, do livro verde do khadafi, do pensamento profundo do charles manson ou do diário dos putos de limparam o sebo a meia escola em columbine.

aí está o verdadeiro paradoxo mas no fundo também a verdadeira essência do mais profundo conceito de liberdade e de igualdade e de democracia. há todo o direito de ter acesso a tais formas de viver e sentir a sociedade, mesmo que sejam atentatórias quanto ás nossas referências básicas.

ignorá-las, esconde-las ou censurá-las não é solução. promove-las, mistificá-las e endeusá-las, também certamente que não.
conhecê-las, desmontá-las e desmascará-las é o caminho.
actuar por antecipação.
mas é difícil, difícil...

5:30 PM  
Blogger tiago m said...

o que acho é que isto não pode ser tomado como liberdade de expressão, Ninguém está contra a venda do livro. A Bertrand quando decide pôr o livro na montra está a fazer uma escolha. Dos vários milhares de livros que têm eles escolheram aquele para pôr na montra. E os próprios empregados não conseguem perceber que alguém se indigne com isto.

Para mim o que isto revela é que em Portugal (Europa?) as pessoas estão anestesiadas numa lógica, "isso é lá com eles"; como se isto não fosse um problema nosso. Mas é… E a verdade é que mta gente na Europa acha que não tem que se meter. Mas estão enganados.

9:08 PM  
Blogger miguel p said...

"com eles"?
entao em madrid morreram quantas pessoas? e em londres?

e compras de certeza o livro tão ou mais facilmente o livro em faro como em nova york. olha, até pela americana amazon, aqui:

http://www.amazon.com/Messages-World-Statements-Osama-Laden/dp/1844670457/sr=8-2/qid=1158616185/ref=pd_bbs_2/104-6688416-6867926?ie=UTF8&s=books

10:57 PM  
Anonymous Anonymous said...

Continuas sem concretizar, gostaria que, no caso concreto por ti narrado, saber como actuarias em conformidade com o que defendes.
Será que:
- boicotar a livraria em questão;
- fazer uma purga aos livros desse cariz ideológico;
- acorrentar-te na porta pricipal da Bertrand, acompanhado por uma greve de fome, enquanto o livro não for retirado de todo o mercado europeu;
- que as livrarias fizessem cartazes a apelar aos consumidores a não compra do livro;
- criar um clone do Torquemada ou do Savanarola, que em cada país europeu, punha-se pela erradicação do livro, criando mesmo um Index com obras que tu achas que não devessem ser postas à venda;
- realizar grandes autos, nas praças principais de todas as cidades, onde esse determinados livros seriam quimados em grandes fogueiras inquisitorias;
- expulsar cada estado membro da União Europeia que fosse apanhado a vender essas obras;
- etc ...
Tiago, falar é fácil, mas quanto a políticas concretas e hà sua eficaz aplicação é que é diferente ...

12:47 AM  
Blogger tiago m said...

ou eu não me fiz entender, ou vocês estão a tentar não perceber…

não é questão de vender o livro (e eu não digo isso em lado nenhum!) e claro que nos US (lugar do mundo com mais liberdade de expressão…) se pode comprar o livro. ah, e eu não referi os estados unidos em sitio nenhum no meu post. isto NÃO é sobre os States

o que eu digo é que a Bertrand fez uma escolha. de colocar o livro do Bin Laden na montra. e o empregado acha absurdo que um cliente proteste. usando a analogia Hitleriana --iniciada pelo Miguel P-- é dificil acreditar que em 1940 a Bertrand achasse normal pôr o Mein Kampf na montra da sua loja

caro João de Loulé,
concretizar o quê exactamente? eu não tenho nada de concretizar ou que propor acções. se continuas a achar que o meu post é sobre liberdade de expressão, não posso fazer nada; é o que eu digo, ou não me soube explicar, ou tu não queres compreender…

(mas já agora, e a um nível simbólico, sim, a bertrand deixou de vender pelo menos um livro por causa disso. e enviei-lhes um email a protestar contra esta história)

9:12 AM  
Anonymous Anonymous said...

e q tal por em pratica esses valores do bin laden e pegar fogo a livraria, matar o livreiro, queimar umas bandeiras ismalicas, tal e qual como nos ameacam fazer as organizacoes mulcumanas???
http://sic.sapo.pt/online/noticias/mundo/20060918ameacascontraopapaeoocidente.htm

5:25 PM  
Blogger Sofia Melo said...

Sou contra o bin laden nas montras. o homem é feio, nada fotogénico e veste-se mal.

5:58 PM  

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