Thursday, March 06, 2008

Todos À Manif de Sábado!

Este governo mistura firmeza com incapacidade de lidar com os agentes do sistema. Como se os professores fossem pessoas incapazes de ouvir o que o governo tem para lhes propor. Segundo o Governo os protestos são um bom sinal porque está a mexer no sistema; os protestos são simplesmente resultado de um sistem corporativo.

Mas ainda mais VERGONHOSO é esta tentativa condicionar os professores; polícia a perguntar nas escolas para saber o que se vai passar? Mas que é isto? A polícia como guarda pretoriana do governo? A polícia deve obediência às leis, à constituição, aos tribunais. Não tem nada que se meter na política!

E o PS, depois do caso Charrua (a directora geral da educação do Norte continua em funções!!!) comporta-se como um partido do poderzinho, com os seus pequenos interesses e incapaz de ouvir o país. Acabo de ver um tal de Marcos Perestrello como cão de guarda: os professores merecem a polícia porque se manifestam à porta de reuniões do PS.

Assustador que gente como este Marco venha a ser a elite política deste país. E mais trágico ainda que seja este o principal partido de esquerda(?) que temos.

22 Comments:

Blogger Luísa said...

Com ou sem «guarda pretoriana» lá estarei no sábado!

11:49 PM  
Blogger Muffi said...

Eu não vou porque não posso, senão ía.
Já fazia falta os Portugueses começarem a insurgir-se e sair para as ruas, por isso parabéns aos professores.
Eu não digo a ministra para a rua, digo mais, o governo todo para a rua...

10:25 AM  
Anonymous Anonymous said...

Há tantos burros mandando
Em Homens de inteligência
Que às vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.



António Aleixo

5:27 AM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Estive onem à noite a ver o porcesso de avaliaçao. Considerar o processo complexo, é um atentado à minha inteligência. Mas sabendo melhor os professores, é natural que se sintam atacados e se manisfestem quando se tenta normalizar a sua actividade, exigindo níveis de actuaçao compatìveis com as exigências de um estado do século XXI.
Já agora alguém perguntou se estavm lá os professores do ensino particular, se esses sao ou nao avaliados e qual é o processo.
Perguntem.
Talvez por isso quem tenha possibilidades económicos em Portugal coloca os seus filhos em escolas privadas...

3:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

De Henrique Monteiro
hmonteiro@expresso.pt
Director do Expresso

Seis sugestões para revolucionar as escolas
A ineficiência do nosso ensino não é culpa desta ministra nem de 99 por cento dos professores. Vem de trás, muito de trás, e passa pela centralização excessiva das decisões e pela imposição central de conceitos errados


Aguerra dos professores contra a ministra da Educação poderia ser aproveitada para fins benéficos. Tais como reorganizar as próprias escolas, a sua autonomia e a sua gestão. Em tempo de guerra as posições extremam-se e só há duas saídas: ou a rendição de uma parte ou a superação do conflito.


É neste último sentido que se pode avançar uma série de sugestões que poderiam devolver independência, rigor, e proficiência às escolas. Medidas assim:


1) Liberdade para os pais escolherem a escola dos filhos. O Estado subsidia o ensino através de cheques-educação e não através de transferências para as escolas que, muitas vezes, se transformam em subsídios à gordura das instituições e ao desperdício;


2) Descentralização da gestão das escolas, através de um gestor nomeado por uma Comissão do Agrupamento escolar. Essa comissão deve ter professores, pais e responsáveis autárquicos locais. Como é óbvio, quanto melhor escola mais alunos e recursos conseguirá;


3) As contratações, nomeações e avaliações dos professores (deverá haver exame para se ser professor) deixam de ser feitas pelo Ministério para o serem pelo gestor da escola;


4) Os manuais escolares, que devem estar de acordo com um programa nacional, passam a ser propriedade das escolas e entregues anualmente aos alunos, que os devolvem em condições no final do ano (caso contrário, pagam-nos). Os manuais, ao contrário do que tem acontecido, não devem ter espaço para preencher pelos alunos nem mudar constantemente. É preferível ensinar bem a matéria já estabelecida do que andar sempre à procura da última moda (é assim na Bélgica ou na Holanda e noutros países onde a Educação é exemplo);


5) Exames nacionais de fim de ciclo (4º, 6º 9º e 12º anos) em todas as disciplinas fundamentais, de acordo com o grau. Isto significa no 9º ano, por exemplo: Português, Inglês, terceira língua, História, Matemática, Geografia, Ciências e, no 12º ano, exame de Filosofia;


6) Ensino obrigatório até aos 16 anos. Possibilidade de retenção (chumbo) e passagem compulsiva para o ensino profissional em caso de mais duas retenções no mesmo ano (caso tenha duas retenções no profissional, perde o direito ao cheque-educação e, se tiver menos de 16 anos, passa para os serviços sociais).


Claro que isto é uma revolução. Nem sindicatos, nem ministério nem editores aceitam. Mas, se guerra é guerra, que seja por bons motivos.

3:53 PM  
Blogger Luísa said...

Caro Coelho,

Não tenho medo nenhum da avaliação! Fui professora de Português durante seis anos na Alemanha e, para subir de escalão, passei por um processo que incluía, além de outras coisas, aulas assistidas.
Como vês o problema não está aí. Eu só não admito, por exemplo, é que as notas que eu dou aos alunos sirvam para me avaliar. Outro problema é o da burocracia. É tanta que vamos estar mais preocupados com papelada do que com os alunos.

10:03 PM  
Blogger Luísa said...

Outra coisa, Coelho, a maior parte dos professores do ensino particular trabalha também no ensino oficial.

10:06 PM  
Blogger miguel p said...

sejam ou não justas as reinvidicações dos professores, ou mesmo a dimensão do protesto, acho que não devem, nem podem ser manifestações corporativas a determinar a política sectorial de um governo. esse foi o erro de guterres.

Quando oiço professores, repito: professores, a chamar "fascista" ao sócrates/ministra ou a empunhar cartazes com "volta salazar", confesso que fico sem dúvidas quanto à substância do protesto, e que no fundo se resume a:
- "Queremos ser avaliados, mas não agora, nem desta maneira" (então como? e quando? e por quem?)
- "Queremos que os resultados finais do nosso trabalho (as notas dos alunos) não contem para a nossa avaliação, nem que sejam 6%"
- "Não queremos perder tempo com burocracias" (agora, porque se for para o ano já dá)
- Não nos obriguem a trabalhar mais horas. isso é que não.

Eu acho que se deve avançar com a avaliação já, este ano. Nada impede o contínuo aprefeiçoamento do processo, mas seria importantíssimo começar, até por uma questão básica de justiça em relação aos outros funcionários públicos, que se sujeitam hoje em dia a um processo, esse sim discricionário e injusto, com quotas e reflexos nas legitimas aspiraçõe.
A luta dos professores está a ser muito bem conduzida pelo mário nogueira, que tem feito o seu papel e que claramente ambiciona substituir o carvalho da silva na cgtp e os profs. têm ganho com essa ambição.

A escola é dos alunos e a verdadeira avaliação, é a sociedade que a faz, quando nos apercebemos da impreparação com que os jovens acabam o secundário (e a univ.), mas sobretudo pela taxa de reprovações e do altíssimo abandono escolar. Se os professores não forem avaliados e co-responsabilizados por isto, onde está a justiça?

3:40 PM  
Blogger Luísa said...

Miguel,

No que diz respeito «à substância do protesto», aqui vão as respostas:
-Queremos ser avaliados, mas não agora porque estamos, neste preciso momento, a avaliar alunos. Para se iniciar o processo de avaliação são necessárias reuniões sem conta e preencher papéis que nunca mais acabam. Como? Nem tudo o que consta do processo imposto pelo ministério é descabido. Podem ser aproveitadas muitas coisas. Por quem? Pelo meu colega de Educação Física, não é com certeza. As disciplinas foram de tal maneira agrupadas que vai haver professores de Ed. Visual avaliar professores de Filosofia.
- Os resultados finais do nosso trabalho NÃO são as notas dos alunos. Já te esqueceste dos pais e dos alunos? Será que eles não são em nada responsáveis?
- Burocracia, NÃO. Nem agora nem nunca.
- «Não nos obriguem a trabalhar mais horas. Isso é que não.» Tens razão! Se pensas que os professores não trabalham o suficiente é porque ignoras completamente qual é a carga horária a que os professores actualmente são sujeitos.

Bem, não posso continuar a escrever, porque tenho 180 testes para corrigir!

6:24 PM  
Blogger tiago m said...

o que eu não percebo é o argumento corporativo. Miguel e Coelho: vocês acham mesmo que os professores são uma classe única e monolítica que só por reage assim porque isto vai contra os seus interesses? Isso foi o que a ministra desde o inicio andava a dizer e provavelmente foi esse continuo atiçar da população contra os professores que também ajudou a chegar a este beco sem (muita saída)

eu repito a ideia do post; um governo que pensa que consegue fazer reformas sem motivar os agentes das reformas não percebe nada de processos democráticos

mas também não percebe nada de gestão! todos os gurus mesmos os mais liberais dizer que os recursos humanos são fundamentais para o êxito de qualquer organização. E o Sócrates acha que uma reforma na educação vai correr bem contra a totalidade dos professores? Parece absurdo. Mas a crer pelas palavras dele e pelos vistos de todo o partido socialista parece que acredita mesmo.

6:42 PM  
Blogger miguel p said...

luisa,

leio-te e vejo que realmente então o problema não está no método (que na generalidade apoias), mas sim no timming e na escolha dos avaliadores.
mas quanto a isso, não vejo as alternativas que deveria ver sair de uma posição tão unanime de uma classe, ou então mais do que: agora é que não porque estamos a avaliar alunos, depois porque estaremos de férias e finalmente não porque estaremos a preparar aulas ou o próximo ano.

não leias isto como uma menorização do trabalho de professor, ate porque eu próprio já o fui quase em exclusivo e ainda hoje dou alguma (pouca) formação.

e avaliados por quem? seja por quem for, mas não pelo meu colega de educação física. concordo. mas então por quem? alguém tem de ser. e quem melhor dos que os teus pares para te avaliarem?

e eu realmente acho que o sucesso dos teus alunos, tem de ser o objectivo final do teu trabalho, se não for esse qual será?
se releres o que escrevi, verás que me referia a uma co-responsabilização, com os pais e com o contexto social alargado, é verdade. mas os professores não podem ser retirados desse processo. até porque há professores a fazer maravilhas com alunos carenciados e outros a fazer misérias em escolas classe A. sempre assim foi.


tiago,
tens toda a razão, quanto ao desejável envolvimento dos agentes das reformas.
neste caso, estamos a falar de uma classe, não monolitica e pró-rebanho acéfalo, mas de quem sabe muito bem o que está em jogo. e eu acho que está em jogo, perder agora ou a longo alguns aspectos que faziam desta, uma profissão calma e apetecível, onde todos chegavam a um final de "horário zero" e ao culminar em "topo da carreira", sem avaliação e sem problema.
os professores hoje sofrem de outras maleitas: desemprego, insegurança no trabalho e na geografia, quebra gradual de posição social, de respeito dos alunos e até dos pais destes.
por isso, é bem natural que se manifestem mais facil e arreigadamente, mas se queres que te diga sinceramente, acho que este aspecto da avaliação tem para além de pouca substância, um efeito contra-producente, aos olhos do resto da sociedade, eventualmente injusto até em certos aspectos e que tende para se agravar se os professores avançarem para a greve.

abraços

9:42 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem vindo, Miguel.

Voltou o grande Miguel, intelectual de mão cheia, idealista, senhor de ideias claras e lineares, analista social e político, multidisciplinar e pluralista, arquitecto da escrita, prosador versátil, senhor de verbo fácil, homem de esquerda e, não menos importante... Leão de Juba Alta.

Já tinha saudades dos teus post´s.



João Chagas Aleixo

10:26 PM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Tiago Aleixo.
Sim.
Acho que os professores são uma classe corporativa como são os taxistas, os médicos, os juizes ou os farmacêuticos.

Luisa
Os professores não querem ser avaliados. Nem tão pouco querem trabalhar no sentido que cumprir o seu dever: Formar só futuros portugueses.

12:25 AM  
Blogger tiago m said...

Coelho:

"Os professores não querem ser avaliados. Nem tão pouco querem trabalhar no sentido que cumprir o seu dever: Formar só futuros portugueses."

EXTRAORDINÁRIO. Os professores, 140,000 cidadãos portugueses, são todos maus profissionais, chulos do erário público.

Isso pelo menos está de acordo (embora mais explicitamente…) com o que o governo português e a ministra andam a dizer há anos; e que ajudou (imenso) a chegar à situação actual. Que só pode ter maus resultados para a educação, para o respeito que os professores têm que ter por parte de alunos/professores, para a motivação dos professores, etc.

O que mais me espanta nessa tua reacção é qual será o conhecimento que tu tens das escolas portuguesas e do trabalho dos professores? Muito maior do que eu pensava, seguramente!!!!

Miguel,
estou em regra de acordo contigo. E acrescento: a avaliação é fundamental, e tem que ser implementada. Mas o discurso inflamado que o governo pôs nisto (e o tom de "eles são uns mandriões") foi mais para consumo externo ("nós somos uns durões!!!! não temos medo de ninguém") do que para resolver um problema em concreto. Se calhar foi demais para a camioneta deles…

Luisa,
Eu axo k a avaliação pode perfeitamente incluir os alunos. Tenho a certeza que no geral, eles são justos suficientes para dar as notas de um modo objectivo e correcto.

10:49 AM  
Blogger Luísa said...

Coelho,

Quantos professores já ouviste dizer que não querem ser avaliados?

Achas que os professores estão nas escolas a ver televisão, brincar ao esconde-esconde ou a fazer croché?

Estes teus comentários só demonstram o completo vazio em que se encontram os teus conhecimentos relativamente à escola.


Tiago,

Os alunos não nos vão avaliar. Os professores é que vão ser avaliados pelas notas que vão dar aos alunos.

5:50 PM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Luisa

Tu, quando dizes que "Queremos ser avaliados, mas não agora porque estamos, neste preciso momento, a avaliar alunos." Mas esse não e o teu trabalho continuo, formar e avaliar? Então quando queres ser avaliada? Em Agosto ;)

Tiago

Pelo que me parece compreender das nossas experiências, temos o mesmo conhecimento das escolas portuguesas. Pelo democraticamente a nossa opinião só poderá ter o mesmo peso, apesar de serem diametralmente opostas. Tu achas que os professores são todos bons e que esta tudo bem na educação. Eu acho que não é assim.
A não ser que mais uma vez, te tenhas esquecido do é democracia...

6:34 PM  
Blogger Luísa said...

Coelho,

Para que a avaliação possa ser posta em prática, é necessário um processo muito moroso que inclui, entre outros, reuniões de grupo e do conselho pedagógico extraordinárias. Este trabalho poderia ser feito fora do período lectivo, não digo em Agosto, porque é das poucas alturas em que nos é permitido ter férias.Só depois deste processo é que pode ser iniciada a avaliação, ou seja, no próximo ano lectivo.
Quando mencionei o facto de estar neste preciso momento a avaliar alunos, referia-me às pilhas de testes que temos que corrigir antes do final de cada período e às reuniões de avaliação que começam para a semana.
E quando se tem 7 ou 8 turmas, cada uma com cerca de 28 alunos, olha que não é tarefa fácil! E rápida também não!

8:04 PM  
Blogger tiago m said...

Coelho:

Não penses que me arrastas para a tua versão maniqueísta da discussão.

Tu é que achas que os professores são todos maus, preguiçosos e necessitam de ser arrasados.

Ou nas tuas próprias palavras: "Os professores não querem ser avaliados. Nem tão pouco querem trabalhar no sentido que cumprir o seu dever: Formar só futuros portugueses."

Eu nunca disse que tudo estava bem. O que eu digo é que um governo que acha que não tem que ouvir quando 100,000 pessoas vão para a rua não percebe nada disto.

Mas como se viu já hoje, e pela nova abertura ao diálogo (mas sem ter nada a ver com a manif de Sábado, pois claro!) pelo menos essa absurda asneira este governo não vai fazer.

O PS e os seus militantes têm que ter mais cuidado com a sua abordagem de Portugal. Qualquer dia acham que só eles é que sabem como se faz.

9:31 PM  
Blogger Paulo Coelho Vaz said...

Tiago

Quem diz que os professores n�o querem ser avaliados, n�o sou eu, s�o os pr�prios professores.
Quem diz que n�o querem assumir as suas pr�prias responsabilidades, s�o os pr�prios professores entrevistados no s�bado no decorrer da tal famosa manifesta�o.

Quanto a tua pr�tica pol�tica, duas coisas:
Tu tens de resolver esse teu problema com o PS e a milit�ncia pol�tica. Participar num partido pol�tico n�o pode ser comentado quase como sendo um crime. Bem pelo contrario.
Os governos n�o podem modificar pol�ticas somente porque h� 100.000 pessoas na rua. Felizmente que Zapatero n�o mudou a sua pol�tica de combate ao terrorismo somente porque o PP colocou 200.000 pessoas nas ruas de Madrid!

12:36 PM  
Blogger Luísa said...

Coelho,

Acho que estamos a falar de manifestações diferentes. Eu estive naquela em que estiveram presentes cerca de cem mil professores e não ouvi nenhum dizer que não queria ser avaliado nem que não queria assumir as suas responsabilidades.

3:51 PM  
Blogger tiago m said...

Coelho,
eu não tenho problema nenhum com o PS e com a militância política no PS (ou em qualquer outro partido político)

o meu problema é quando os militantes do PS (ou de qualquer outro partido político) entendem que quem está contra as suas opiniões é um corporativo e não deve ser levado em linha de conta.

é uma lógica de "nós contra os outros"; e "nós somos melhores que os outros" que só pode levar à cegueira é à irracionalidade. Como o caso em discussão amplamente comprova. Felizmente que nem toda a gente é assim, o que permite que aparentemente isto ainda se possa resolver.

9:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Para o socialista Coelho, aqui vão 13 paragrafos escritos pelo Baptista Bastos, no Jornal de Negócios, sobre o Partido Socialista e o perigo das maiorias absolutas:

"Um amigo meu, professor em Lille, envia-me um email. Há muitos anos, deixou Portugal. Esteve, agora, por aqui. Lança-me um apelo veemente e dorido: “Que se passa com a nossa terra? Parece um país morto. A garra portuguesa foi aparada ou cortada por uma clique, espalhada por todos os sectores da vida nacional e que de tudo tomou conta. Indignem-se em massa, como dizia o Soares.”

Nunca é de mais repetir o drama que se abateu sobre a maioria. Enquanto dois milhões de miúdos vivem na miséria, os bancos obtiveram lucros de 7,9 milhões por dia. Há qualquer coisa de podre e de inquietantemente injusto nestes números. Dir-se-á que não há relação de causa e efeito. Há, claro que há. Qualquer economista sério encontrará associações entre os abismos da pobreza e da fome e os cumes ostensivos das riquezas adquiridas muitas vezes não se sabe como.

Prepara-se (preparam os “socialistas modernos” de Sócrates) a privatização de quase tudo, especialmente da saúde, o mais rendível. E o primeiro-ministro, naquela despudorada “entrevista” à SIC, declama que está a defender o SNS! O desemprego atinge picos elevadíssimos. Sócrates diz exactamente o contrário. A mentira constitui, hoje, um desporto particularmente requintado. É impossível ver qualquer membro deste Governo sem ser assaltado por uma repugnância visceral. O carácter desta gente é inexistente. Nenhum deles vai aos jornais, às Televisões e às Rádios falar verdade, contar a evidência. E a evidência é a fome, a miséria, a tristeza do nosso amargo viver; os nossos velhos a morrer nos jardins, com reformas de não chegam para comer quanto mais para adquirir remédios; os nossos jovens a tentar a sorte no estrangeiro, ou a desafiar a morte nas drogas; a iliteracia, a ignorância, o túnel negro sem fim.

Diz-se que, nas próximas eleições, este agrupamento voltará a ganhar. Diz-se que a alternativa é pior. Diz-se que estamos desgraçados. Diz um general que recebe pressões constantes para encabeçar um movimento de indignação. Diz-se que, um dia destes, rebenta uma explosão social com imprevisíveis consequências. Diz a SEDES, com alguns anos de atraso, como, aliás, é seu timbre, que a crise é muito má. Diz-se, diz-se.

Bem gostaríamos de saber o que dizem Mário Soares, António Arnaut, Manuel Alegre, Ana Gomes, Ferro Rodrigues (não sei quem mais, porque socialistas, socialistas, poucos há) acerca deste descalabro. Não é só dizer: é fazer, é agir. O facto, meramente circunstancial, de este PS ter conquistado a maioria absoluta não legitima as atrocidades governamentais, que sobem em escalada. O paliativo da substituição do sinistro Correia de Campos pela dr.ª Ana Jorge não passa de isso mesmo: paliativo. Apenas para toldar os olhos de quem ainda deseja ver, porque há outros que não vêem porque não querem.

A aceitação acrítica das decisões governamentais está coligada com a cumplicidade. Quando Vieira da Silva expõe um ar compungido, perante os relatórios internacionais sobre a miséria portuguesa, alguém lhe devia dizer para ter vergonha. Não se resolve este magno problema com a distribuição de umas migalhas, que possuem sempre o aspecto da caridadezinha fascista. Um socialista a sério jamais procedia daquele modo. E há soluções adequadas. O acréscimo do desemprego está na base deste atroz retrocesso.

Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso, seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. O quero, posso e mando de José Sócrates, o estilo hirto e autoritário, moldado em Cavaco, significa que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos portugueses. Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cultura da revolta.

A maioria absoluta de Sócrates está cheia de ex-qualquer coisa, ele próprio ex-jota do PSD. Não adviria muito mal ao mundo, acaso as convicções fundamentais não tivessem sido por eles abandonadas. Justificam-se com a admissão de que o mundo mudou. Mudou, e aceleradamente, é verdade. Como também verdade é o facto de ninguém do Poder demonstrar qualquer interesse em enfrentar os problemas novos que despontam diariamente: a receita tem sido sempre a mesma.

O esvaziamento da sociedade, como entidade cívica, não tem encontrado resposta em nenhum sector. Da política ao jornalismo, da educação à justiça, da saúde à segurança, da literatura ao cinema, do teatro às artes plásticas, as coisas vão de mal a pior. E, no entanto, há uma apetência pelo “novo”, pelo espírito de missão, pelo diálogo cultural entre gerações, totalmente inaproveitada. O paradoxo da situação consiste, por exemplo, no seguinte: tanto na Imprensa, como nas Rádios e nas Televisões há excelentes profissionais – então, porque é que o resultado é tão mau?

A crítica ao “proteccionismo” de Estado, tão em moda nos editorialistas timbrados no “esquerdismo”, não encontra equivalente na crítica ao domínio do “mercado.” A realidade histórica da globalização (ou seja: a vitória planetária do capitalismo) não representa uma infalibilidade fatal. Uma outra inflexão, não tão subterrânea quanto se possa considerar, nasce do desassossego nascido da própria natureza da globalização. A dimensão política da crítica é, por enquanto, escassa, mas determinante porque o seu eixo está fixado no sofrimento dos dominados. Esta é a questão principal proposta aos partidos de Esquerda, sobretudo, como agora, no PS, que dispõe de confortável maioria. Contudo, onde estão os textos teóricos?, as discussões fundamentais e fundamentadas?, a doutrina que espelhe a inquietação intelectual, ética e ideológica?

A década de Cavaco exerceu o poder baseado num economicismo serôdio. Uma Direita ressabiada e rancorosa aliara-se a homens novos, recém-saídos de uma adolescência prolongada, e aplicaram ao País as teses conservadoras e, até, reaccionárias, tão bem aceitas pela nossa cultura rural. O PSD nunca foi social-democrata; assim como o PS, de socialismo, nem o mais leve cheiro. E o curioso é que nenhum dos dirigentes, antigos, modernos ou actuais de qualquer daqueles partidos experimenta algum sentimento de culpabilidade moral.

A circunstância de obter maioria absoluta não legitima nenhum partido a tripudiar sobre as normas democráticas mais rudimentares. Recusar a ouvir o outro é alarmante sintoma de autoritarismo. Há quem goste. Assim como há comentadores sem perigo que condenam, com árduos adjectivos, a indignação da rua. A rua pode ser, em democracia como em ditadura, a forma superior do protesto colectivo inconformado. A rua é a mais solene e grave das advertências ao Poder, quando o Poder, mesmo democraticamente eleito, quase se traveste de tirania."

Um abraço amigo,

João Chagas Aleixo

11:49 PM  

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