Meter o Nariz Onde Não Se É Chamado (E as Vantagens Insuspeitas que por Vezes Resultam Disso)

Num exemplo do humanitarismo branco que resulta mal no continente preto, uns voluntariosos franceses encontram-se presos, acossados, assustados; queriam retirar criancinhas do Chade e do Sudão e entregá-las para adopção. Mas afinal as crianças não eram orfãs, a lei de Chade e Sudão não permite a adopção, e mais não sei quantas ilegalidades. Uma grande confusão; que vai terminar com uma libertação dos brancos, depois de um período de grande agitação com vozes de repúdio pós-colonialista, etc.

Numa demonstração da verdade que não há nada que seja só mau, esta notícia tem permitido apreciar as qualidades da secretária de estado dos negócios estrangeiros francesa. Grande Sarkozy; obrigado.

A Vénia ao Dinheiro

Se há um assunto onde me sinto próximo da velha esquerda é num certo ódio ao dinheiro que tem origem em simplesmente gerir dinheiro. O BES aumentou 60% os seus lucros relativamente ao ano passado. À custa de taxas irrelevantes, juros, comissões, spreads arredondados para cima, etc, etc. E não produz nada, não decorre de uma ideia nova, não ajuda ninguém, é conseguido por uma situação de cartel entre os outros bancos; se alguém baixasse os preços, seguramente não haveria estes lucros vergonhosos.

Isto toma outro tipo de dimensões quando um banqueiro tem do seu bolso 12 milhões para pagar uma dívida do filho, que o seu próprio banco tinha anteriormente perdoado. 12 milhões, repito, 12 millhões de euros!!!!

Curioso é a neutralidade com que esta história é reportada na nossa comunicação social. Se a história do perdão da dívida do filho do banqueiro fosse na política (ou no futebol…) havia de ser bonito; mas os jornalistas pelos vistos sabem bem quem lhes paga o ordenado ao fim do mês.

O Milagre no Futebol

O Fátima ganhou à Académica-OAF, ao Porto e ao Sporting. E não há comentador que não fale em "milagre", "resultado pouco católico", "eles foram lá com fé", etc. O que vem na mesma onda original do: "estudantes passam/falham no exame", "estudantes (não) tinham a lição bem estudada", com que a nossa comunicação social desportiva nos brinda relativamente a CADA jogo da Académica OAF.

Para além da originalidade, os comentários sobre o Fátima revelam uma estupidez agonizante: as equipas "melhores" jogam com jogadores que NUNCA jogaram juntos, sem quaisquer automatismos, sem conhecimento entre si, fora de ritmo, etc; é assim tanta surpresa que uma equipa de facto equipa, mesmo se com jogadores piores, mais motivada, com mais querer, ganhe o jogo?

E têm estes gajos este emprego de sonho que é falar sobre futebol o tempo todo!!!! Que injustiça.

A Propaganda Deles. No Nosso Espaço

Em Faro uns écrans mostruosos cospem imagem brilhantes que iluminam, e perturbam dezenas de casas, feixes de luz, holofotes poderosos apontados às janelas. Do outro lado a lesão estética faz-se quando somos presentados nas traseiras dos trambiques, com caixas tipo ar condicionado. Nos écrans passam imagens irrelevantes; propaganda ao que a Câmara Municipal e o seu irrelevante presidente andam a fazer (p.ex., visita à casa do povo de uma freguesia da cidade); e claro, irrelevante publicidade (montes dela).

Esta poluição constante do espaço público, que o poder pensa que é dele e que pode tratar como quer, é vergonhosa. Mas alguém vai reclamar este espaço um destes dias; tenho esperança.

A Guerra

A propósito de um documentário, discute-se a guerra colonial. Gente que não consegue deixar de a viver, expressa-se, exaltada. Uma coisa longínqua.

Um tio que esteve lá. Pais de pessoas muito, muito próximas --três-- também. Em quatro, dois estão vivos, outro vivo mas paralítico, o quarto morto, sem que a filha se lembre dele.

Provavelmente uma coisa não tão longínqua assim.

Rebelem-se!

Um homem importante do Vaticano veio a Fátima pedir aos católicos que se rebelem contra a sociedade global: "Os que invocam imperativos de uma sociedade aberta acabam fechar todas as entradas e saídas para o Transcendente".

Eu hoje percebo-o perfeitamente, nomeadamente por ter compreendido o mal estar e o medo da "religious right" americana; aquelas pessoas não aceitam que religião esteja ausente do espaço público; o consenso europeu –"a religião é da esfera privada"– simplesmente não satisfaz.

O problema é que muita gente não está disposta aceitar um papel mais público da religião; eu sou um deles.

O Padrão

Depois do Charrua e da não-demissão da Directora Regional de Educação do Norte, estou agora curioso para descobrir quem NÃO vai ser demitido nesta história de polícias a indagarem sobre as intenções de manifestantes anti-Sócrates.

Senhor Ibrahim. Outra Vez.

Como prometido há uns tempos, cá fica a publicidade merecida para a reposição da peça "O Senhor Ibrahim e as flores do Corão". De 27 de Setembro a 27 de Outubro, todas as Quintas e Sábados, pelas 21h30, no espaço do Teatro Estúdio da Bonifrates(Casa Municipal da Cultura).

Um espectáculo que vale a pena; e uma obrigação moral apoiar a malta que se mexe para estas coisas.

A Minha (Não) Ida à Bola

Jogo sempre de conflito interno, desta vez atenuado pela vantagem do Porto, que me permitia ser pelo OAF sem problemas. O feriado, autocarros e comboios esgotados, e aí estou em Coimbra; resolvo ir ao jogo. Fácil de estacionar, nenhum trânsito, bilheteira também sem bicha, tudo tranquilo. Até 20 euros, ingenuamente, se der vou para a bancada central.

E foi aí que a realidade bateu duramente; 20 euros não dá entrada para nenhum lugar. 25 euros era o mínimo, aqueles lugarzinhos assim na esquina. 40 euros o preço para assistir ao jogo sentado na central.

Sentado no Paris, café do Arsénio e do Zé, assisti ao jogo; abanando a cabeça de cada vez que as câmaras mostravam um estádio tristemente e escandalosamente vazio.

30 É Suficiente para Optimismo?

Debate Prós e Contras, na RTP. Aparato, grandes frases: inovação, tecnologia, europa, plano tecnólogico, um novo Portugal. Os nomes habituais: Critical Software, YDreams, e na área da biotecnologia a Crioestaminal. A Crioestaminal é uma empresa de gente esperta, capaz; conseguiu deixar de ser só uma glorificada empresa de gestão de trasporte de mercadoria. "Quantos empregados têm?" "30"

30?!!! 30?!!! Eu sei se começa por algum lado; e que de 5 a 30 em poucos anos é um grande crescimento. Mas todo este reconhecimento –rádios, jornais, televisões– por empresas que geram o mesmo número de empregos que dezenas de hotéis no Algarve? Perdemos o sentido das proporções? Podemos mesmo estar optimistas com exemplos, sempre os mesmos, de empresas que significam tão pouco em termos de pilim?

(Na audiência do dito programa havia mais de duzentas pessoas. Vi 4 mulheres. E a partir de certa altura comecei a tentar contá-las com atenção)