A Suécia em Lisboa

Quando eu era adolescente, e nadava na praia em Faro, sentia sempre olhares de soslaio quando saia da água; no Algarve não havia nenhuma piscina, e alguém que soubesse nadar (mariposa, especialmente), era assim uma espécie rara.

A Suécia, no meu imaginário da altura, era um país onde havia acesso a muita coisa, inclusivé a piscinas, facilmente, muito barato, em muitos locais, sem preocupações; pessoas a sair das piscinas, depois do seu treino, e a ir à sua vida todas contentes, mas sem sequer se aperceberem do luxo que tinham.

Lisboa tem hoje piscinas espalhadas por todo o lado; 1 Euro e 54 cêntimos; abertos dias da semana até às 21h15; fins de semana 19h00. Entras, pagas, nadas, sais. E vais à tua vida todo contente; mas eu, pelo menos ainda, apercebo-me bem do luxo que tenho, e penso que Portugal evoluiu mesmo, mesmo muito.

The Best – The Wire

A melhor série de sempre da televisão, The Wire. Um grande fresco da vida de uma cidade, relações entre as pessoas, as nossas fraquezas e forças, tudo escrito e interpretado com uma qualidade que só me deixa boquiaberto.

Como com outras grandes obras artísticas, penso: "Como é possível a criatividade e a capacidade humana chegar tão longe?"

A Década em Música

Fuck, estamos a acabar a década (dependendo como se conta, claro…). Dez anos mais, portanto. Mas não há só coisas más; e uma das melhores coisas são as listas de livros, músicas, cinema.

All Songs Considered é um programa fabuloso; passa as músicas, e as discute. E sure enough, lá está uma lista da década. E já deu para conhecer fabulosas coisas novas (Osvaldo Golijov, The Bad Plus). E muitas coisas que estariam também na minha lista (é sempre bom ter validação!): RadioHead, Wilco, Animal Collective, Flaming Lips, Green Day, OutKast, Toumani Diabete e Ali Farka Toure, Bright Eyes, Bon Iver.

O curioso desta lista é que muita música americana não seria escolhida na Europa (Sufjan Stevens, TV on the Radio, Kanye West, White Stripes, Wilco, Bright Eyes, Bon Iver, Arcade Fire). Afinal há muitas diferenças… E eu estou do lado americano.

Para ouvir, (mesmo!!!) aqui; página do programa aqui.

Somos Todos Iguais

Rui Cardoso, de quem eu nunca tinha ouvido falar, é Secretário-geral do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público e diz que o primeiro-ministro é igual a qualquer outro cidadão.

O primeiro-ministro, eu já conheço; e fico contente que ele, como qualquer outro cidadão, tenha todo o direito de ver as suas conversas privadas espalhadas nos jornais.

Esta justiça, arrogante, invocando razões de superioridade moral com palavras caras, incapaz de auto-crítica (nem uma palavra sobre as fugas de informação), incapaz de assegurar os direitos dos cidadãos (como o seu direito à privacidade), sem sentido de Estado (o primeiro-ministro igual a qualquer outro cidadão!!!!!!!) mete medo; mete, mete, espero nunca ter o azar de me ver metido com eles.

Contente com uma Morte

Estava nos US quando um atirador furtivo matou 10 pessoas; completamente ao acaso, sem conhecer qualquer uma delas. Escolhia as suas vítimas: alguém a entrar numa bomba de gasolina, a sair de um supermercado; deitado dentro de um carro, plataforma de tiro; disparo; morte. Ponto. Next.

Foi condenado à pena de morte; morreu ontem. Não fiquei nada triste com esse acontecimento.

As Maravilhas de uma Maioria Relativa

Pode ser que nos safemos de andar vigiados, fichados, e identificados o tempo todo (e sujeitos que um amigo qualquer de um polícia lhe peça, ilegalmente, para saber onde está o nosso carro, mesmo sem qualquer mandato; ou que um juíz, sem qualquer razão, legalmente resolva pedir o mesmo).

E é tão bom ver o Governo a piar baixinho e a ter que se entender com os professores para arranjar um sistema de avaliação.

Ah, quem é que dizia mal das maiorias relativas?

Porque Não Usar (E estragar) o Carro. Não Somos Nós que Pagamos…

Sou um ENORME fan do Marinho Pinto. Chama os bois pelos nomes, não tem medo de tocar em que situação seja, não recua perante posições dificeis (mesmo perante os seus, em tomadas de posição muito pouco corporativas).

Ontem falou do caso Face Oculta; para dizer que a investigação está virada para a Comunicação Social. E é realmente inacreditável que se saibam de escutas, passos do processo, conversas que nada têm a ver com o processo. Como só a polícia e os agentes de justiça têm acesso a estes dados, a única conclusão possível é que eles, impunemente, passam esta informação para fora.

O que dá uma luz muito diferente em bases de dados globais, levantamento de sigilos bancários, chips em carros para saber onde cada viatura está, etc, etc. Não se admirem: um polícia qualquer vai andar a ver onde está o carro da namorada do amigo numa determinada noite, porque o amigo lhe pediu…

(Outra questão inacreditável levantada por Marinho Pinto: O estado e as polícias usam as viaturas de pessoas que são acusadas; e se elas forem consideradas inocentes, quando vão levantar os carros eles têm mais não sei quantos quilómetros e estão danificados!!!!!!)

O Homem na Cruz Fora das Salas de Aulas

Foi preciso ir até ao Tribunal Europeu, mas finalmente fica claro que exibir nas escolas públicas um homem, com ar de sofrimento, ensaguentado e com uma coroa de espinhos na cabeça, isto tudo, claro antes de ter voltado à terra, para passados alguns dias se ir definitivamente embora, é ilegal.

Por acaso estou curioso em quantas escolas em Portugal isto ainda acontece…

O Homem

António Sérgio era daquelas coisas; como os pastéis de nata; o tropical na praça da república. Coisas que estão lá.

Agora não está. Mas a voz e a música, e o amor e o poder da rádio, vai estar comigo (e com MUITA outra gente).