A rádio foi sempre uma das fontes de informação mais relevantes da minha vida. Lembro-me de adormecer a ouvir "O Passageiro da Noite" e de sentir que havia outro mundo grande (por vezes estranho…) lá fora. Depois outros programas como o mítico e mitificado "Som da Frente".
Comprei o meu primeiro rádio portátil (um Aiwa) no Girassolum numa loja de um senhor baixinho, de poucas palavras, que parecia gostar de rádios; na véspera da ir para a Alemanha (no mesmo dia que comprei um casaco azul gordo, luvas vermelhas, e saco verde da Coronel Tapiocca; duas das coisas ainda com vida activa e frequente). Andei com o meu aparelho de rádio todos os dias, aprendendo alemão no processo (um truque maravilhoso para aprender línguas, que o meu pai aparentemente também já usava!) Lembro-me de um programa tipo "Passageiro da Noite" (mas AINDA mais estranho!)
E depois vieram os Estados Unidos, a
KQED e a
NPR. Ouvi milhares de horas de rádio, com programas de uma qualidade e de um conhecimento detalhado do mundo que me fizeram crescer, aprender, compreender que o mundo é grande (e estranho…). E que há gente que sabe muito sobre muita coisa; e que até por isso é bom sermos humildes, rigorosos, e cuidadosos com as certezas que temos. Morning Edition, All Things Considered,
This American Life são programas excepcionais; os noticiários curtos, claros, informativos sem fanfarra; a
Newshour do Jim Lehrer o melhor noticiário do mundo.
Deixar a NPR foi das coisas que mais falta me fez; mas vieram os PodCasts e as emissões OnLine que me permitem continuar a ouvir todos esses programas, muitas vezes na forma portatil, com um "rádio" desta vez branco, da Apple em vez da Aiwa, e 30 vezes mais caro.
Não há rádio em Portugal que se possa comparar com a NPR. Entre a Bolsa, o trânsito, as notícias repetidas, o desporto (quer dizer, os treinos de Benfica, Porto e Sporting), a publicidade, o trânsito e ainda a bolsa, os anúncios sobre programas a passar, sobra pouca coisa para falar de alguma coisa relevante; muito mau, muito desinteressante, muito redutor.
E no entanto há momentos brilhantes:
Mais Cedo ou Mais Tarde, de João Paulo Meneses: claro, curioso, sem arrogâncias a tentar perceber MESMO o que o entrevistados está a tentar dizer; e o
Visão Global, de Ricardo Alexandre: global, detalhado, com a notícia no centro. Não podem ter o acesso aos convidados de
Fresh Air,
Studio360, ou
To the Best of Our Knowlege; mas são tão interessantes como eles.