Agitar. A mim, aos outros. Ao ritmo que convier. Observações caóticas sobre o meu mundo, o dos outros, o meu umbigo e o dos outros. Divirtam-se, animem-se, discutam, barafustem, agitem, usem.
Friday, January 25, 2008
Os Ladrões
Jérôme Kerviel, trader francês, sem ajuda, dentro do sistema, desviou 5 mil milhões de euros. 1 milhão de euros vezes cinco mil. Em Portugal, os senhores importantes e bem postos do BCP que vemos nos jornais, a perorar inapelavelmente sobre a nossa vida e Portugal também roubaram largamente o estado português (enquanto auferiam salários anuais de MILHÕES de euros).
Já que confiar na actuação desta gente com bom nome que ganha milhões é manifestamente impossível, onde andam os polícias: banco de Portugal, CMVM, ministérios vários, and so on? Será que são todos amigos uns dos outros? E será que vamos ver esta gente a acabar com os costados na prisão? Hmmm, talvez não…
Fintas surpreendentes, futebol entusiasmante, risco, originalidade. E melhor ainda, génio com efectividade: golos, assistências, cruzamentos para a área; números que provam, sem lugar a dúvidas, que o Quaresma é o mais importante da equipa. Na subjectividade, e na objectividade, Quaresma é o melhor jogador em Portugal, e eu digo mesmo que é um dos melhores do mundo.
E no entanto os portistas assobiam este jogador; porque tenta fintar demasiado, é individualista e perde bolas. É a versão zero do risco, Portugal no seu melhor: incapacidade de reconhecer grandeza, ou de aceitar que a grandeza só chega com muitos falhanços momentâneos.
Há uns tempos Cristiano Ronaldo, também assobiado, dizia "os portugueses são assim". Aí está mais uma prova que são mesmo assim.
Viral advertising – a nova "buzz word" num tempo em que os meios estão tão dispersos – podcasts, net, jornais, revistas, cabo, rádio, etc, etc. Algo bem feito, com piada, que emocionalmente chega a um grupo de pessoas que depois o espalha para os seus amigos; de borla e pessoalmente.
E funciona em cheio. Neste exacto momento, ao meu lado, seis pessoas estão a ver este vídeo, em delírio, "PCR song", feito pela BioRad para vender máquinas de PCR. O PCR é uma das páginas mais brilhantes da biologia moderna: uma técnica fundamental, de uma simplicidade estonteante, que revolucionou os métodos de análise da biologia, que prova que a criatividade humana é linda, por um homem que é um grande, grande cromo.
Razões para o sucesso desta publicidade: HILARIANTE (rebolar no chão a rir), direccionado ao grupo que lhes interessa (não sei se os não-biólogos percebem como isto é fantástico…), imaginação, conteúdo (a letra explica o que o PCR faz, como se faz, como surgiu!!!!), e uma ligação a uma canção popular e do "tempo" dos cientistas de hoje.
Brilhante. Parabéns BioRad. Aqui tens um agente da propagação do teu vírus.
Oscar Pistorius, campeão para-olímpico pretendia correr nos Jogos de Pequim, vertente "normal". A Federação de Atletismo não permite; Pistorius, duplo amputado, corre com duas próteses em fibra de carbono, as cheetah. Numa inversão do termo handicap, o amputado tem vantagem sobre as pernas dos homens normais.
Tiger Woods operou-se e hoje tem visão mais do que 20/20; Barry Bonds ingeriu esteróides para quebrar todos os records de home runs.
O corpo, a máquina, os químicos. As previsões de Gibbons no cyber-punk Neuromancer, aí estão.
Eu vi a luz. E são os Led Zeppelin. Que música fantástica. A melhor banda de rock de todos os tempos, disse alguém; e provavelmente tem razão.
Nota1: Os meus novos in-ear Shure ajudam a ouvir cada detalhinho da música. Nota2: Para as queixas que o Agitar nunca põe jeitosos, aqui vai uma foto dos Zeppelin.
Obama venceu; esperança, juventude, optimismo, generosidade, idealismo. O sentimento geral nos media americanos é "Reason to Celebrate". Um negro, com nome islâmico, assumindo que tomou drogas, que estudou na Indonésia, é hoje aceitável, mais, elegível pelos americanos.
No lado republicano Huckabee, ex-pastor mas também ex-governador, ganhou, com o apoio do que há de mais conservador socialmente nos EUA. Mas com uma mensagem também de mudança, populista, até anti-big-corporations; contra a pobreza, a favor do ambiente. Uma vitória curiosa, mas com menos projecção, entusiasmo (até no número de votantes).
Entre estas duas notícias o que decidem realçar os jornais portugueses? O Público põe Huckabee na capa: "Evangélicos, a guerra santa no Iowa". O DN, pelo menos um pouco mais equilibrado, põe os dois acontecimentos em igual lugar de destaque: "Iowa escolhe frescura de Obama e fé de Huckabee".
É triste este anti-americanismo básico. Dizer mal do Bush e de algumas decisões dos States é justo e merecido; ser incapaz de reconhecer e aplaudir o extraordinário que sai dos States é simplesmente mesquinho.
Entusiasmante, dramático, vibrante. Gente nova, esperança, um discurso inclusivo. Um negro que se chama Barack Hussein Obama, repito NEGRO e BARACK HUSSEIN OBAMA, que escreveu um livro em que diz que tomou cocaína. Pode mesmo ser Presidente dos Estados Unidos. Numa mensagem de esperança, união, chegar a toda a gente; red states, blue states.
Provavelmente não vai ganhar; o sistema é forte, com gente esperta, inteligente. E Hillary Clinton é uma mulher extraordinária, e uma política fortíssima. E continua a ser a minha favorita.
Mas é impossível não ficar emocionado com este evento. E impossível não concluir também que os Estados Unidos são mesmo um grande país.
Ginásios cheios em Janeiro; aumento de vendas de produtos para deixar de fumar; cursos de escolas de línguas cheios. A necessidade dos rituais na nossa espécie; novo ano, novas (ou velhas) decisões.